Governo assina convenções da OIT e atende demanda histórica das centrais

Renato Godoy de Toledo

 

 

O governo Luiz Inácio Lula da Silva assinou e enviou ao Congresso as convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), atendendo a uma reivindicação histórica do movimento sindical. A 151 garante o direito de negociação coletiva aos trabalhadores do setor público, enquanto a 158 protege os funcionários de todos os setores contra as demissões arbitrárias, motivadas por atuação política e preconceitos de raça, gênero, religiosidade ou orientação sexual.

 

Atualmente, as negociações coletivas no serviço público não são regulamentadas, ou seja, diferentemente do que ocorre no setor privado, os governos não têm a obrigação de abrir negociação com os sindicatos em torno dos reajustes salariais. As negociações só ocorrem por conta da pressão e das greves dos servidores, mas não há nada que impeça o poder público de ignorar as reivindicações dos trabalhadores.

 

A assinatura das convenções aconteceu no dia 14, no Palácio do Planalto, com a presença de cinco ministros de Estado, da diretora do escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, e representantes de seis centrais sindicais, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Nova Central e União Geral dos Trabalhadores (UGT).

 

Na ocasião, o presidente Lula afirmou que o governo fará “todo o esforço” para que as convenções sejam aprovadas no Congresso. Na avaliação das centrais, a tramitação no Congresso não será tarefa fácil, em função da composição conservadora do parlamento.

 

 

Rotatividade

 

A CUT avalia a medida do presidente da República como histórica, já que a central, desde sua origem, em 1984, exige a ratificação dessas convenções. “No final de 2007, colocamos como prioridade a aprovação dessas duas convenções e da redução da jornada de trabalho sem diminuição salarial”, afirma Artur Henrique, presidente da CUT, que esteve presente na cerimônia.

 

Ele acredita que o principal efeito positivo da 158 será o fim da alta rotatividade no mercado de trabalho brasileiro. “Apesar de a convenção não significar a estabilidade no emprego, ela será um obstáculo para os empresários que demitem os funcionários e contratam outros por um salário menor. Os empregos com carteira assinada estão aumentando, o que é positivo, mas isso é fruto dessa transição de demissões e contratações com salários menores”, analisa.

 

A avaliação da recém-fundada CTB é semelhante à da CUT. “As duas convenções são muito importantes. Hoje os funcionários não têm nenhuma defesa contra a demissão imotivada”, explica Wagner Gomes, presidente do sindicato dos Metroviários de São Paulo e da CTB.

 

 

Pressão

 

Logo após o envio ao Congresso, as convenções, sobretudo a 158, foram criticadas por entidades patronais e por parlamentares conservadores. Teme-se que a aprovação da 158 tenha condicionantes que ataquem direitos dos trabalhadores, como o fim da indenização de 40% do FGTS no ato da demissão. O Brasil chegou a ser signatário da 158 entre abril e novembro de 1996. Mas o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) denunciou (revogou) a medida, atendendo às pressões da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A assinatura da convenção tinha sido realizada na gestão anterior, de Itamar Franco (PMDB).

 

“Agora, nossa intenção é realizar um processo de pressão e mostrar para os senadores e deputados que as centrais estão unidas e que a aprovação das convenções é importante politicamente, principalmente num ano eleitoral”, revela Artur Henrique.

 

 

Obstáculo

 

O sindicalista afirma que a CUT já empreende algumas articulações, sobretudo com a base aliada do governo, para garantir a rápida tramitação das convenções no parlamento. “Nós sabemos das dificuldades e do perfil conservador do Congresso, mas queremos que elas (as convenções) sejam aprovadas ainda no primeiro semestre”, projeta.

 

Wagner Gomes conta que, após a cerimônia em que Lula assinou as convenções, os sindicalistas lá presentes reuniram-se com o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado Federal, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Segundo o presidente da CTB, ambos se comprometeram a colocar as convenções na agenda das casas que presidem.

“A aprovação das convenções vai exigir mobilização, já que os parlamentares vão receber pressão de empresários e banqueiros”, prevê Gomes.

Fonte: Brasil de Fato