Agência
Câmara, 18 de abril de 2008
Vaccarezza:
atualização da CLT só vai a voto com consenso
Na
audiência, foram abordados temas como a eventual elaboração de uma reforma
trabalhista.
O
deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) garantiu que só vai levar à votação o
Projeto de Lei 1987/07,
que consolida as leis trabalhistas, após a produção de um texto capaz de
traduzir o consenso dos deputados da Comissão de Trabalho, de Administração e
Serviço Público que apóiam a proposta. "Eu não vou assumir compromisso com quem
é contra a consolidação, com quem acha que o processo tem de parar", ressalvou o
deputado, que é autor da proposta e também coordenador do Grupo de Trabalho de
Consolidação das Leis. Ele estima que o projeto será votado pelo grupo em 60
dias.
Vaccarezza
participou nesta quinta-feira de audiência sobre o projeto na Comissão de
Trabalho, onde a proposta recebeu apoio cauteloso dos participantes. O diretor
de Assuntos Legislativos da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho (Anamatra), juiz Renato Henry Sant'Anna, por exemplo, afirmou que a
sistematização das leis trabalhistas vai provocar impacto no conteúdo da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT - Decreto-Lei 5.452/43). "Não podemos nos
iludir que, mexendo em uma legislação complexa, antiga para os padrões
brasileiros, não vá surgir nenhum tipo de problema",
disse.
O
magistrado sugeriu cautela ao grupo de trabalho. "O processo [de consolidação]
tem que ser feito de maneira bem pensada, com calma",
avaliou.
Problemas
no texto
O
presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Sebastião
Vieira Caixeta, disse que sua entidade apóia o projeto. No entanto, admitiu que
os procuradores ficaram apreensivos após o ministro do Tribunal Superior do
Trabalho (TST) Maurício Godinho Delgado apontar, em audiência pública na Câmara,
vários problemas no texto que haviam passado
despercebidos.
Apesar
de a consolidação não implicar mudança de conteúdo das leis, mas apenas reunião
e sistematização de dispositivos em vigor, Caixeta avalia que "não existe
nenhuma leitura neutra". "O trabalho de consolidação tem de buscar o equilíbrio,
a fidelidade ao texto legal já constituído", afirmou. Caixeta ponderou que
Vaccarezza, que coordena o trabalho de consolidação, tem mostrado abertura às
sugestões da ANPT, inclusive acolhendo várias delas.
Perda
de direitos
Vaccarezza
disse que há um medo injustificado de que a sistematização provoque perda de
direitos dos trabalhadores. "A norma jurídica não permite que se mexa no
conteúdo da legislação", assegurou. "Se algum juiz ou diretor da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) falar isso, essa pessoa estará se desqualificando",
disse.
"Os
sindicatos não têm medo, mas preocupação [com o projeto de consolidação]",
rebateu o representante do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
(Diap) na audiência, Hélio Stefani Gherardi. "Sempre que se fala em modernizar a
CLT, vêm a terceirização, a quarteirização, a flexibilização, a precarização dos
direitos dos trabalhadores", afirmou. Gherardi ponderou, no entanto, que o Diap
"apóia inteiramente" o projeto desde que dele resulte apenas mais clareza das
normas.
Vaccarezza
garantiu que não vai alterar a redação de nenhum texto das leis em vigor durante
o processo de consolidação. "Não vamos mudar o que está escrito. Até poderíamos,
mas vá que eu mude alguma coisa, com boa intenção, e alguém passe a interpretar
o novo texto de maneira desfavorável ao trabalhador?" explicou.
Reforma
trabalhista
O
deputado Roberto Santiago (PV-SP) disse que o debate sobre a consolidação o
preocupa porque pode desencadear mudanças mais amplas do que o imaginado
inicialmente. "Alguém poderia dizer: vamos aproveitar que estamos fazendo isso
[a consolidação] e discutir a reforma trabalhista de uma vez",
ressalta.
Tarcísio
Zimmermann (PT-RS) ressaltou que a consolidação não configura reforma
trabalhista, mas apenas uma simplificação da legislação. "Ao povo não interessa
a complexidade. O povo quer preto no branco", disse. Ele admitiu, porém, que uma
simples emenda pode desencadear uma ampla reforma.
Já
o presidente da Comissão de Trabalho, deputado Pedro Fernandes (PTB-MA), avaliou
que a sistematização das leis trabalhistas "é uma necessidade
urgente".
O
deputado Vicentinho (PT-SP), por sua vez, garantiu que há muitos deputados
ávidos para revogar direitos trabalhistas. "Precarizar [as relações de trabalho]
é uma sede danada que uma parte dos integrantes desta Casa tem", disse. Para
ele, o PL 1987/07 deve ser aprovado se for "apenas para enxugar" a legislação
trabalhista.
E
o deputado Vinicius Carvalho (PTdoB-RJ) disse que a legislação tem de acompanhar
a evolução da sociedade: "É preciso ver o que é pertinente e o que não é
mais."
Fonte: Informativo
Eletrônico da CNTI – n.º 742 – 18/04/2008.