Agenda
sindical em 2009: unidade para vencer a crise e o oportunismo
empresarial
Primeiro item da agenda deste ano é a
luta pela manutenção do emprego. A unidade do movimento é
o eixo estratégico. Assim, os trabalhadores poderão conter
a sanha empresarial contra os direitos e conquistas Alysson
Alves*
O ano não começou bem para o conjunto dos
trabalhadores brasileiros. O agravamento da crise financeira
que eclodiu nos Estados Unidos e já se espalhou para o mundo
tem, desde o ano passado, provocado a demissão de milhares
de trabalhadores, retração na economia e o adiamento de novos
investimentos no País.
Cientes das enormes barreiras a serem superadas
em 2009, o movimento sindical tem como primeiro item da agenda
deste ano a luta em favor da manutenção do emprego, a necessidade
de ampliar esforços para a continuidade do crescimento da
economia e das conquistas sociais já alcançadas.
Pressionado pelas centrais sindicais e demais
representações da sociedade, o Governo já adotou algumas medidas
para amenizar os graves e sérios problemas advindos da crise,
como o anúncio da ampliação da quantidade de parcelas do seguro-desemprego,
a criação de uma linha de crédito para as revendedoras de
automóveis usados responsáveis por mais de 600 mil empregos,
a ampliação dos recursos destinados à qualificação profissional,
o aumento do benefício do Bolsa-Família e a continuidade do
reajuste real do salário mínimo com a antecipação do pagamento
para o mês de fevereiro de modo que, a partir de 2010, o reajuste
passe a ser concedido sempre no primeiro mês de cada ano.
Infelizmente, o fato de que as empresas tiveram
lucros fabulosos em 2008 não tem sido considerado no momento
de garantir os empregos e a renda dos trabalhadores. O patronato
tem insistido nos efeitos negativos da crise e demitido sem
piedade. A crise também tende a prejudicar as campanhas salariais
que têm data-base no início deste ano. A dificuldade maior
será negociar reajustes correspondentes à recomposição da
inflação mais ganho real de salário como ocorrido ao longo
dos últimos seis anos.
Agenda sindical
Outro ponto da agenda do movimento sindical, a redução da
jornada de trabalho sem redução do salário, ganha força neste
momento de crise. No entanto, é preciso que as representações
dos trabalhadores estejam atentas para que não ocorra inversão
dessa lógica. Atrelada à redução da jornada os empresários
defendem a redução de salário como meio para garantir o principal,
o emprego.
Prejudicados, portanto, diretamente pela
crise que não foi iniciada no Brasil, o conjunto organizado
do movimento sindical brasileiro tem enfrentado esse momento
com a elaboração e apresentação de propostas concretas capazes
de reativar o crescimento econômico e de garantir e gerar
novos postos de trabalho.
Em Manifesto Contra a Crise, entidades sindicais
reivindicam a redução drástica e rápida da taxa básica de
juros dos atuais 12,75% para 8% ao ano, a diminuição do spread
bancário (valor cobrado pelos bancos entre na captação e os
empréstimos concedidos) e o uso de recursos públicos para
a qualificação profissional.
Para barrar a onda de demissões, o movimento
sindical sugere a negociação entre patrões e trabalhadores
de modo que dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) possam ser aplicados. Entre as propostas estão a concessão
de férias coletivas, licença remunerada, banco de horas ou
até mesmo a suspensão do contrato de trabalho sem, contudo,
a perda sumária do emprego.
É bom frisar que desde o ano passado o movimento
sindical tem apresentado sugestões para o enfrentamento da
crise como os 18 pontos unitários entregues ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em novembro. Um dos pontos exigia
a chamada "cláusula social", ou seja, qualquer recurso
público, ou de fundos dos trabalhadores, aplicado nas empresas
ou no crédito, deve ter contrapartida da preservação de empregos
ou outras contrapartidas sociais.
Ao Congresso Nacional
Ao Congresso Nacional, os sindicalistas apelavam e ainda permanece
na agenda de reivindicações: a ratificação das Convenções
151 e 158 da OIT, a extinção do Fator Previdenciário, regra
criada no Governo FHC que prejudica enormemente os trabalhadores
no momento da aposentadoria, bem como a aprovação do reajuste
dos benefícios previdenciários com base no salário mínimo.
Pedem também a retirada de todos os projetos
de lei que precarizam as relações do trabalho como o PL 4.302/98,
que trata da terceirização e que já conta com pedido de arquivamento
solicitado por Lula. Falta a Câmara fazer a leitura e votar
a mensagem do Executivo.
Produção legislativa
No âmbito do Congresso Nacional para onde converge toda a
agenda de interesse do movimento sindical e dos trabalhadores,
a tendência da produção legislativa para 2009 não é alentadora.
Além da crise, as atividades do Parlamento serão fortemente
contaminadas pelas articulações em torno da disputa presidencial
de 2010.
Apesar desses cenários é imprescindível a
unidade de ação do movimento sindical para evitar mais retrocessos
nas relações de trabalho, assumindo a bandeira do investimento,
do emprego e da preservação dos direitos e da renda das famílias.
A unidade deve ser fortalecida principalmente após a eleição
do deputado Michel Temer (PMDB/SP) para presidir a Câmara
dos Deputados nestes dois últimos anos desta legislatura.
Temer já votou contra matérias de interesse dos assalariados.
Quando deputado Constituinte Temer votou
contra a redução da jornada para 40 horas e contra a estabilidade
no emprego, uma garantia jurídica real do trabalhador para
permanência no trabalho.
O movimento sindical deverá, portanto, permanecer
unido e atento à tramitação de medidas que possam afetar o
trabalhador já que o ambiente de crise favorece a aceleração
da tramitação de projetos que tratam de flexibilização e até
mesmo a eliminação de direitos trabalhistas. (*) Jornalista
e assessor parlamentar do Diap
Fonte: Diap
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