Aposentadoria
maior que um salário tem ganho real inferior às demais
Desde 95, ganho para quem ganha piso foi 121%; para os demais,
foi 27%.
Na terça, Lula aprovou alta de 7,72% para benefício acima de um
mínimo.
Mesmo com aumento de 7,72% para os aposentados que ganham mais de um salário
mínimo, o ganho real (acima da inflação) desses beneficiários
é bem menor do que o verificado para os aposentados que recebem
o piso previdenciário (R$ 510).
De acordo com dados da Previdência Social,
em 16 anos, entre 1995 e 2010, os beneficiários que ganham um
salário mínimo tiveram ganho real de 121%. Com o reajuste autorizado
na terça, quem ganha acima do piso obteve aumento real de 27%
no mesmo período.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou
o aumento para quem recebe mais de um salário mínimo nesta terça,
mais de duas semanas depois de o percentual ter sido aprovado
pelo Congresso Nacional. A partir de janeiro, aposentadorias
superiores a um mínimo já haviam sido reajustadas em 6,14%. Com
o aumento maior, os aposentados receberão a diferença retroativamente
ao mês de janeiro.
O aumento de 6,14% que havia sido concedido
em janeiro já era o maior reajuste real concedido a quem ganha
mais de um salário mínimo desde 1995. Nos anos anteriores, os
reajustes praticamente só acompanharam a inflação. Conforme dados
da Previdência, mais de oito milhões de pessoas (30% dos beneficiários)
recebem mais do que um mínimo.
Para reajustar as aposentadorias, o governo
adota o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
que mede o poder de compra de quem ganha entre um e seis salários
mínimo. Confira abaixo a relação entre a inflação e o aumento
das aposentadorias desde 1995.
Insatisfação
Para o diretor financeiro da Confederação Brasileira dos Aposentados
e Pensionistas (Cobap), Nelson de Miranda Osório, o aumento
não é suficiente para a categoria.
"Eu tinha toda certeza que o presidente
não vetaria o aumento. Ele está sentindo que está no último ano
de governo e ainda não cumpriu a promessa de recuperar as aposentadorias.
Agora continuamos a luta pela recuperação das aposentadorias,
queremos o mesmo índice do mínimo. (...) Tem gente que se aposentou
com oito salários e hoje ganha a metade, quatro salários. É um
assalto, um massacre", diz Osório.
O vice-presidente da Federação de Associações
e Departamentos de Aposentados e Pensionistas do Estado de São
Paulo (Fapesp), Benedito Marcílio, concorda que o aumento "está longe" de agradar plenamente os aposentados. "O aumento anda não nos deixa satisfeitos. A nossa luta é reaver as perdas que
ocorreram desde o governo FHC."
Marcílio destaca que o ano eleitoral influenciou
a decisão. "Em 2006 conseguimos no Congresso Nacional aumento de 16,67%, mas, com insensibilidade,
Lula acabou vetando. Esse ano tem outra questão, outra situação.
Lula está naquela angústia de eleger seu sucessor."
O líder do governo na Câmara dos Deputados,
Cândido Vaccarezza, negou que o presidente tenha cedido ao clima
eleitoral. De acordo com ele, se Lula tivesse vetado os 7,7%
seria preciso editar uma Medida Provisória para garantir ao menos
o reajuste de 6,14% a que os aposentados já têm direito. De acordo
com Vaccareza, uma nova MP não passaria pelo Congresso sem alterações
e seria analisada pouco antes das eleições.
Está na pauta da Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados desta quarta-feira (16)
a análise de projeto de lei 4434/2008, que cria regras para aposentadorias
e benefícios da Previdência.
Fator
previdenciário
Os aposentados criticaram, no entanto, o já anunciado veto ao
fim do fator previdenciário.
O fator previdenciário foi um mecanismo criado
em 1999 para inibir as aposentadorias precoces e equilibrar as
contas da Previdência Social. Na prática, ele reduz o benefício
de quem se aposenta mais jovem, independentemente do tempo de
contribuição. Ao recomendar o veto da extinção do fator, o ministro
da Fazenda, Guido Mantega, disse que o fim do fator prejudicaria
a "sustentabilidade fiscal" do governo.
"Os critérios são perversos com
esse fator previdenciário. Quem se aposenta tem perda, de cara,
de mais de 35% do que se tivesse trabalhando", afirma Benedito Marcílio.
Para o diretor da Cobap Nelson Osório, o sistema
85/95 é uma alternativa viável ao fator. Nesse sistema, a soma
da idade da mulher e do tempo de contribuição deve ser 85 para
obter aposentadoria integral. Para o homem, a soma seria 95.
Vários aposentados que continuaram trabalhando
depois de se aposentar buscam na Justiça a reposição de seu benefício
por conta do fator previdenciário. Esse tipo de processo é chamado "desaposentação", uma vez que o beneficiário precisa renunciar à aposentadoria e pedir uma nova
com base na situação atual.
"Agora
continuamos a luta pela recuperação das aposentadorias.
Queremos o mesmo índice
(percentual de
reajuste) do salário mínimo. Tem gente que se aposentou
com oito salários e hoje ganha a metade, quatro salários.
É um
assalto, um massacre."
Nelson de Miranda Osório, diretor
financeiro da Confederação Brasileira dos Aposentados e
Pensionistas, sobre a defasagem nas aposentadorias acima
de um mínimo |
fonte: globo.com
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