Ameaça
quente
Com o aumento das temperaturas causado pelo aquecimento global,
doenças infecciosas e causadas pelas águas devem se proliferar
Um estudo
apresentado pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM)
durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-15),
na Dinamarca, revela que a década atual foi até agora a mais
quente de que se tem registro. Segundo o secretário-geral
da entidade, Michel Jarrud, o planeta está sofrendo um rápido
aquecimento desde a década de 1970 e o aumento de temperatura
acentuou-se nos últimos anos. Se nada for feito para diminuir
as emissões de gás carbônico na atmosfera, o aumento da temperatura
do Planeta será inevitável e várias pesquisas têm revelado
que o calor será uma das maiores ameaças à saúde humana no
século 21.
Em Curitiba e outras cidades do estado,
a população sentiu o aquecimento global na pele. Durante o
mês de novembro, o Paraná registrou temperaturas até 4 graus
acima da média, de acordo com dados divulgados pelo Instituto
Climatempo. Mas, como explica o climatologista José Antonio
Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
não se pode relacionar as altas temperaturas deste ano diretamente
com as mudanças climáticas. É o El Niño o responsável pelas
alterações no clima deste ano. “O problema maior no Sul e Sudeste
do país é que as regiões viveram um longo período de seca,
as chuvas demoraram a cair, causando o aumento da temperatura”,
explica.
Independentemente de ser provocado pelo aquecimento global ou pelo El Niño, o
verão promete ser quente e um dos maiores problemas agravados
pelo calor é a proliferação de doenças infecciosas. “A elevação
da temperatura acelera os ciclos reprodutivos de parasitas e
insetos vetores, como os mosquitos, facilitando, assim, a sua
disseminação. Os principais surtos que podem se multiplicar com
o aquecimento global são as doenças transmitidas pela água, como
a leptospirose, e por vetores, como a dengue e a malária”, explica
o médico Ulisses Confalonieri, pesquisador da Escola Nacional
de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
No Sul do país, a tendência é que os casos
de dengue aumentem significativamente com a elevação das temperaturas.
No Paraná, dos 20 municípios analisados pelo Levantamento Rápido
de Índice de Infestação de Aedes aegypti no Paraná (Liraa),
um apresentou risco eminente, 11 estão em alerta, e 5 têm índices
satisfatórios, entre eles Curitiba.
Além dessas, outras doenças endêmicas
poderão se agravar com as mudanças climáticas. Surtos de tripanossomíase,
leishmaniose, filariose, amebíase, oncocercíase, esquistossomose,
febre amarela, peste bubônica e disenteria também poderão ameaçar
a vida da população, principalmente nas regiões mais pobres
do Brasil e do mundo.
“Todas as regiões do país e do mundo são
vulneráveis em graus diferentes e por motivos diversos, mas
as áreas mais pobres serão, em geral, mais afetadas pela maior
exposição da população e pela pouca capacidade de resposta
aos impactos. O semiárido brasileiro é uma área particularmente
vulnerável, pelos maus indicadores socioeconômicos e de saúde,
pela população numerosa e pela perspectiva da piora da aridização”,
diz Confalonieri.
Como explica a epidemiologista Suzana
Dal Ri Moreira, do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), além da dengue, a hepatite A viral
aguda, a leptospirose e as intoxicações alimentares, causadas
por bactérias, também são males que se agravam com o aumento
das temperaturas no estado. “Enquanto as intoxicações e a
hepatite estão relacionadas à falta de condições de higiene
e de conservação dos alimentos, a leptospirose está ligada
às chuvas que costumam ser mais frequentes nesta época do ano”,
explica a médica.
fonte: Gazeta do povo
|