Governo
do Paraná perde para Dominó no STJ
Derrota no Supremo dificulta os planos do governador Requião de
aumentar influência do Estado na Sanepar
O governo do Paraná saiu derrotado na briga contra
o poder da Dominó Holdings S/A dentro da Companhia de Saneamento
do Paraná (Sanepar). Por seis votos a um, os ministros do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) decidiram no início da noite de quarta-feira
manter o ''acordo de acionistas'' da Sanepar. O acordo permite
que o grupo Dominó, mesmo sendo minoritário, tenha poder de gestão
dentro da Sanepar, o que dificulta os planos do governador Roberto
Requião (PMDB) de aumentar a influência do Estado nas decisões
da empresa.
Com a decisão de anteontem, a realização de
uma assembleia geral na Sanepar para votar a integralização de
mais de R$ 700 milhões do Estado ao capital da empresa não deve
mesmo ocorrer. Se o aumento do capital fosse concluído, e o grupo
Dominó optasse por não fazer o aporte necessário para garantir
a mesma proporção acionária, o Estado ganharia força na Sanepar,
mesmo com o ''acordo de acionistas'' em vigor.
A primeira tentativa do governador Requião
contra o grupo Dominó foi em 2003, quando o peemedebista, logo
quando assumiu o Executivo, assinou um decreto anulando o ''acordo
de acionistas'' da Sanepar. O STJ, contudo, restabeleceu o documento,
em caráter liminar. Anteontem, o STJ decidiu manter o ''acordo
de acionistas'', no julgamento do mérito. Atualmente, o capital
votante é liderado pelo Estado, que detém 60%, seguido do grupo
Dominó (39,7%) e demais investidores (0,3%). A Dominó Holdings
S/A é formada pelas empresas Copel, Andrade Gutierrez e Daleth.
Em entrevista ontem à FOLHA, o procurador-geral
do Estado, Carlos Marés, afirmou que considera a decisão do STJ
um entendimento definitivo, porém ''em cima de um ponto já vencido''.
''O Estado já cansou, não tem mais jeito. Tanto que o governador
Requião já pediu o dinheiro de volta'', afirmou, em referência
aos cerca de R$ 745 milhões cobrados pelo Estado em julho. Devido
à tentativa fracassada de aumentar o capital da Sanepar, o Estado
pede a devolução do dinheiro alegando que a Lei de Responsabilidade
Fiscal não permite ''um empréstimo'' à Sanepar.
''O Estado tomou emprestado, em 2001, mais
de R$ 700 milhões de um banco japonês e, desde então, vem pagando
as parcelas. O dinheiro foi dado inteiro para a Sanepar, a título
de adiantamento de capital'', explicou Marés. O objetivo na época
era estratégico: o Estado receberia de volta o dinheiro a partir
da venda de ações da Sanepar internacionalmente, no ano de 2002,
mas a tentativa foi frustrada. ''Deu errado, ninguém comprou
as ações. Na época, havia o risco do investimento no Brasil'',
completou. A quantia, então, foi classificada como um ''futuro
aporte de aumento de capital'', mas, até hoje, devido à resistência
do grupo Dominó, amparado em liminares, o Estado não conseguiu
realizar uma assembleia geral para aprovar o aumento do capital.
A Sanepar e o Estado agora negociam o pagamento
do valor. Parte da dívida (cerca de R$ 300 milhões) poderá ser
paga por meio de ativos fixos. O Conselho de Administração da
Sanepar já aprovou a entrega do sistema de água de Iraí, localizado
na Região Metropolitana de Curitiba, para o Estado. A conclusão
do negócio deve ocorrer daqui 30 dias, segundo prazo estimado
pelo procurador-geral do Estado. ''Não é uma negociação simples.
Acredito que o sistema Iraí seja responsável por um terço do
sistema de água de Curitiba'', disse Marés.
Quanto à decisão do STJ, Marés informou que
o Estado estuda a possibilidade de recurso. O único voto contrário
foi o do ministro Herman Benjamim. Os demais seguiram o voto
da relatora, ministra Eliana Calmon. A FOLHA não conseguiu ter
acesso, ontem, ao voto da relatora.
fonte: folha de Londrina |