Saiba
o que fazer se você tem sono no trabalho
Sonolência piora rendimento e pode provocar acidentes.
Apesar da má fama, cair no sono durante o trabalho é considerado normal por especialistas,
desde que de forma esporádica. O que preocupa os médicos é quando
a vontade de dormir no serviço aparece com frequência, sinal
de noites mal dormidas ou até mesmo de um distúrbio que precisa
ser tratado. Isso, ao contrário da "cochilada", não pode ser resolvido apenas com um alongamento ou com um gole de café.
O G1(Globo.com) separou dicas para
identificar o que causa o sono diurno e o que fazer se o sono
virar um problema.
problema.
Além do desconforto, trabalhar com sono tira
o rendimento, pode levar a erros e até provocar acidentes, diz
o médico do trabalho Alexandre Lourenço, vice-presidente da Associação
Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
“A grande maioria das pessoas com essa queixa
[de sono no trabalho] tem privação crônica de sono. Por algum
motivo em suas vidas elas se esqueceram da necessidade de dormir
e passaram a ter um sono insuficiente”, afirma a especialista
Márcia Pradella, do Instituto do Sono da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp).
Márcia
explica que a duração mínima de sono necessária por dia varia
de pessoa para pessoa, mas não deve ser menor do que seis ou
sete horas. “É muito raro alguém só precisar dormir quatro
ou cinco horas por noite”, diz.
Para saber se o repouso foi o ideal, basta
levantar descansado e com disposição, diz ela. Já a duração máxima
de descanso diário gira em torno de sete a oito horas e meia,
afirmam os especialistas.
O neurologista
Shigueo Yonekura, do Instituto de Medicina e Sono de Campinas
e Piracicaba, em São Paulo, afirma que, com a correria
do dia a dia, os trabalhadores têm deixado o sono de lado.
“As pessoas vão dormir cada vez mais tarde e continuam acordando
cedo no dia seguinte”, diz.
É o caso do atendente Thiago da Silva, 23
anos, que trabalha à noite há um ano e meio e só consegue dormir
cerca de três horas e meia por dia. A jornada de trabalho de
SIlva é das 18h às 6h.
Ele afirma que vai para a cama às 10h e só
consegue pegar no sono às 11h. "Quando deito sinto o corpo cansado, mas a mente continua trabalhando e demoro
para conseguir dormir", conta.
Por volta das 14h30, o atendente acorda para
tomar banho, almoçar, cuidar do filho de nove meses e ir para
o trabalho. "Às vezes tenho sono no serviço, principalmente depois da folga [ele trabalha
quatro dias e folga dois]. Nessas horas, levanto e bebo um copo
de água para despertar", diz.
Segundo Yonekura, quem não consegue aumentar
as horas diárias de sono, como Silva, pode aproveitar para tirar
cochilos no ônibus, nos horários de estudo ou até mesmo após
o almoço – 15 minutos já são o suficiente para repor as energias.
Sesta
“Pescar” no trabalho uma vez ou outra, porém,
é normal, dizem os médicos. Afinal de contas, não é todo o dia
que dá para dormir tanto quanto o organismo precisa. O soninho
depois do almoço também é comum, por conta da digestão.
Nesses
casos, os especialistas indicam que o trabalhador levante,
estique o corpo, tome um café e, se possível,
tire um cochilinho de dez a quinze minutos antes de retornar
ao serviço.
E para quem pensa que dormir no trabalho só
acontece nos “sonhos”, há empresas que veem na soneca uma forma
de aumentar o rendimento dos funcionários e oferecem espaços
para o cochilo depois do almoço.
É o caso da Apdata, empresa do ramo de recursos humanos na cidade
de São Paulo. A empresa possui, em um dos andares do seu prédio,
uma sala de sonoterapia onde os trabalhadores podem dormir
quando quiserem.
Luisa Nizoli, diretora executiva da empresa, diz que o período
de maior movimento na sala da soneca é após o almoço, mas há
usuários o dia todo. Ela diz que não há tempo limite para ficar
na sala, mas os funcionários costumam tirar um soninho por
no máximo 30 minutos.
Além de sala
de sonoterapia, a empresa construiu também um salão de áudio
e vídeo, sala de cromoterapia (tratamento relaxante
por meio das cores), massoterapia (ambiente para massagens)
e sala de estudo. A previsão é inaugurar, ainda neste ano,
um espaço ao ar livre com pomar e redes.
Luisa revela que o ganho na produtividade dos funcionários foi
de 60% após a inauguração dos espaços.
Sintomas
Quem não dorme bem acorda mal-humorado, com sonolência e sensação
assemelhada à fadiga, dizem os médicos. “Muitas pessoas sentem
esses desconfortos e não os associam ao sono. Eles pensam que
estão anêmicos ou estressados com o trabalho”, diz Márcia.
Com o acúmulo de noites mal dormidas, surgem problemas como hipertensão,
infartos, perda de memória e da capacidade cognitiva.
Isso porque o sono é responsável por restabelecer as energias
perdidas durante o dia, descansar a mente e estimular a memória.
“É durante o sono que gravamos as coisas que aprendemos durante
o dia”, disse Yonekura.
Empresas
Toda empresa, obrigatoriamente, deve ter o
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que
estuda as condições de saúde dos funcionários, o que inclui verificar
quadros de sonolência, explica o médico do trabalho Alexandre
Lourenço, vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade
de Vida (ABQV).
Segundo ele, funcionários que estão com o problema devem avisar
a empresa sobre o quadro e, se necessário, passar por tratamento.
Lourenço afirma que empresas com mais de 500 funcionários devem
ter um médico do trabalho interno. As menores precisam oferecer
um profissional que preste serviços externos aos funcionários.
Doenças
Há doenças que provocam o sono diurno e outras
que atrapalham o sono à noite, tais como a apneia do sono (distúrbio
que provoca ronco e interrupções na respiração durante o sono),
obesidade, insônia, narcolepsia (ataques de sono repentinos),
hipersonolência idiopática (sono excessivo o tempo todo), entre
outras.
Os obesos, segundo os especialistas, têm maior dificuldade para
respirar durante à noite, o que atrapalha o sono. Roncar demais
também atrapalha um bom sono, pois significa que a pessoa está
fazendo muito esforço para respirar, diminuindo a qualidade
do repouso.
Nesses casos, é importante procurar um médico para tratar a doença.