Em ano de economia ruim, ação trabalhista avança
2009 teve crescimento do PIB próximo de zero e muitas demissões
nos primeiros meses; resultado dessa combinação foi um
aumento de 14% no número de processos abertos por trabalhadores
no Paraná
As demissões provocadas pela crise
financeira aceleraram a entrada de ações trabalhistas no
Paraná em 2009. Depois de quatro anos com números praticamente
estáveis, houve um aumento de 14% no total de novos processos
no estado. Segundo dados do Tribunal Regional do Trabalho
(TRT), foram iniciadas 119.387 ações em 2009, contra 104.846
no ano anterior.
“A crise assolou muitos postos de
trabalho, e muitos desses processos resultaram em ações trabalhistas,
o que pode ter se refletido nesse aumento ao longo do ano”,
avalia a juíza Valéria Rodrigues da Rocha, diretora do Fórum
Trabalhista de Curitiba. “Além disso, muitas empresas fecharam
as portas sem condições de pagar verbas indenizatórias”,
completa a advogada tributarista Thais de Andrade, do escritório
Marins Bertoldi Advogados Associados. O grosso das demissões
decorrentes da crise aconteceu no fim de 2008 e nos primeiros
meses de 2009.
Só em 2008, segundo dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram demitidas
1,14 milhão de pessoas – quase 200 mil a mais do que no ano
anterior. Em 2009, o número de demissões foi levemente menor,
mas o ritmo de contratações ao longo do ano ficou mais lento
do que o esperado – o que também pode ter contribuído para
um número maior de ações. Entre janeiro e julho de 2008,
antes portanto da turbulência financeira mundial, foram criados
122.797 empregos no Paraná, segundo dados do Caged, divulgados
pelo Dieese. No mesmo período de 2009, a geração foi 61%
menor – apenas 47.433 empregos. “Quando demora para conseguir
se recolocar, o trabalhador tende a buscar uma alternativa
de renda, que pode ser as indenizações. Por outro lado, muitas
vezes deixa de lado a briga judicial se encontra logo um
novo emprego”, avalia Sandro Silva, economista do Dieese.
Tendência
Na comparação entre os dados do Caged e do TRT, o número
de novas ações de 2009 corresponde a 10,6% do total de demissões
do estado. Em 2007 e 2008 o porcentual havia sido de 9,8%
e 8,4%, respectivamente. As demissões não necessariamente
são convertidas em ações no mesmo mês, ou até dentro de um
mesmo ano, mas a série história mostra que, em anos de desaquecimento
econômico, há uma tendência de aumento na proporção entre
dispensas e novas ações.
“Em 2005, houve um aumento das taxas
de juros, que provocaram um impacto negativo para o emprego.
Assim como aconteceu no ano passado, as pessoas tiveram dificuldades
para conseguir um novo emprego”, lembra o economista do Dieese.
“E o que se observa é que, naquele ano, o porcentual de ações
em relação às demissões chegou a 11,54%.”
Empresas investem em mais prevenção
Trabalhadores mais bem informados
e fiscalizações mais criteriosas da Justiça do Trabalho têm
provocado um aumento dos investimentos das empresas na prevenção
dos acidentes e em processos internos que evitem pedidos
de indenização no futuro.
O diretor-presidente do Sesi, José
Antônio Fares, conta que há quatro anos os programas que
a entidade realizava sobre o tema atendiam cerca de mil indústrias
no estado. Em 2010, o órgão vai atender mais de 3,5 mil.
“Não há dúvida de que é um reflexo de uma legislação mais
rigorosa sobre o assunto. Mas também há uma conscientização
maior dos empresários”, diz.
Fares diz que, em muitos casos, as
questões relacionadas à saúde ocupacional e à segurança do
trabalho já fazem parte do planejamento estratégico das companhias,
uma vez que têm impacto direto nos processos e nos resultados
financeiros.
O vice-presidente para política e
relações de trabalho do Sinduscon Paraná, Euclésio Finatti,
diz que o grande problema dos acidentes de trabalho no segmento
da construção civil está ligado à informalidade. “Entre as
empresas formais, há um absoluto cuidado com essa questão.
Até porque os acidentes custam muito caro.”
Exemplo
O técnico do trabalho Misael Nery,
da Jtekt Automotiva, empresa de São José dos Pinhais, conta
que, aos poucos, a empresa começou a perceber que investimentos
na área poderiam trazer vantagens. “A padronização de processos
de trabalho ajuda na organização da empresa. Hoje, os trabalhadores
orgulham-se do prestígio alcançado pela Jtekt no mercado
em relação à segurança do trabalho. E este é um fato que
contribui para a permanência na empresa por um longo período.”
Segundo Nery, para a empresa manter
o padrão de segurança são investidos cerca de R$ 500 mil
por ano – entre encargos, documentações legais, treinamentos
e investimentos. As medidas de prevenção, diz o técnico,
diminuíram os acidentes de forma significativa. “Tomando
por base nosso histórico de 10 anos, quando ainda não havia
segurança do trabalho o índice de acidentes era de uma proporção
de 5% do efetivo”. A empresa tem 400 funcionários e nos últimos
dois anos registrou apenas quatro acidentes. “No dia da admissão,
os funcionários já saem conscientes de que a empresa se preocupa
com eles e que fazem parte de um grande sistema de segurança.”
fonte: Gazeta do Povo
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