Justiça
dá ganho de causa a trabalhador que usou e-mail para provar
hora extra
Valor estimado do processo é de R$ 500 mil
| Empresa entrou com recurso contra decisão e caso seguirá
na 2ª instância.
A Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro deu
ganho de causa a um funcionário da Nokia Siemens, no Rio,
que usou e-mails para comprovar que fazia horas extras e que
o trabalho em excesso lhe trouxe problemas pessoais e de saúde.
A empresa já entrou com recurso e o processo aguarda distribuição
no Tribunal Regional do Trabalho da 1ª região.
A decisão foi do juiz Gustavo Farah Corrêa, da 54ª Vara do
Trabalho do Rio, e publicada em dezembro do ano passado. A
Justiça concedeu todos os direitos trabalhistas referentes
ao período de trabalho, indenização por danos morais para
o empregado e punição para a empresa por tentativa de postergar
o processo. A estimativa é de que o valor final chegue a R$
500 mil.
As principais provas do processo, segundo a Justiça, foram
e-mails trocados entre o empregado e seus supervisores.
Versão do empregado
Carlos Henrique Ferreira da Costa, 36 anos, morador do Rio,
trabalhou dois anos na Nokia, entre março de 2007 e julho
de 2007, como analista de negócios, de acordo com o advogado
dele, Theotonio Chermont de Britto. Na empresa, Costa era
responsável pelo controle de contas das operadoras de telefonia.
Conforme o advogado, durante o período em que Costa trabalhou
na empresa requisitou diversas vezes, por e-mail, um auxiliar,
em razão do grande volume de trabalho. O funcionário teria
inclusive enviado e-mails dizendo que o trabalho em excesso
estava causando problemas de saúde.
"Ele trabalhava não só durante a semana, mas diante da
alta carga de trabalho, à noite, fins de semana e feriados.
No fim de semana, tinha que levar a filha pequena para o trabalho,
porque não tinha com quem deixar. Certa vez, teve que trabalhar
com braço quebrado porque não tinha ninguém para substituí-lo",
disse Chermont de Britto.
O advogado diz que o contrato de trabalho de Costa previa
o pagamento de horas extras. "Ele chegou a requerer aos
supervisores que fossem pagas as horas extras que fazia."
Segundo ele, seu cliente trabalhou durante as férias em casa
e na própria empresa.
"Depois de dois anos trabalhando nesse ritmo, se submetendo
a uma série de irregularidades sem que a empresa tomasse medidas
para saná-las, ele não agüentou mais e rescindiu indiretamente
o contrato de trabalho", narrou o advogado.
A rescisão indireta é prevista na legislação trabalhista quando
a empresa não cumpre o contrato de trabalho. Nesse caso, o
empregado pode requerer judicialmente todos os direitos que
receberia se fosse demitido sem justa causa, como multa de
40% sobre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Uso de e-mails
O advogado afirma que quase todo foi fundamentado
nos e-mails. "Eu já tinha me utilizado de e-mails como
prova complementar, mas nunca como prova principal de quase
todo o processo. Fora a prova testemunhal, que comprovou trabalho
fora de horário, o restante das provas foram e-mails e cartas."
O juiz federal do trabalho Gustavo Farah Corrêa afirmou que
a empresa não contestou o conteúdo dos e-mails, mas sim o
fato de eles serem usados como prova. "Os e-mails hoje
são uma prova de comunicação que as pessoas usam toda hora.
É de se estranhar que uma empresa como a Nokia, que fabrica
celular, não aceite esse mecanismo."
Segundo o juiz, os e-mails já são aceitos pela Justiça há
algum tempo, mesmo assim as pessoas têm receito de usá-los
como prova. "Se a empresa descobre que o empregado usa
o e-mail corporativo para fins libidinosos, como pornografia,
isso pode ser usado como prova para demissão por justa causa.
Da mesma forma o trabalhador também pode usar a ferramenta
para comprovar o que é feito em seu trabalho."
fonte: G1
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