Fim
do fator previdenciário vai ser vetado pelo presidente
Ministros defendem que Lula também corte o reajuste de 7,72% aos
aposentados
O presidente Lula vetará o fim do fator previdenciário inserido
na medida provisória (MP) aprovada na semana passada pelo Senado
e que trata do reajuste dos aposentados que ganham mais do
que o salário mínimo. Ele ainda não decidiu se manterá o índice
de 7,72% de aumento definido pelos parlamentares. Os ministros
Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) defendem
um corte para 6,14%.
“Houve um consenso entre todos os representantes
do governo de que não é possível simplesmente acabar com o
fator previdenciário. Diante disso, o presidente falou que
vai vetar”, afirmou Paulo Bernardo. Nas contas do governo,
além de estimular a aposentadoria precoce, a mudança representaria
uma despesa de R$ 4 bilhões por ano.
O fator previdenciário foi criado em 1999 na
gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e é uma regra que reduz
o valor da aposentadoria para quem para de trabalhar mais cedo
(veja mais detalhes no quadro). O dispositivo gerou uma economia
estimada por diferentes fontes do governo entre R$ 15 bilhões
e R$ 40 bilhões. Quando passou a vigorar, porém, recebeu várias
críticas do PT, principalmente de Lula.
Na semana passada, o presidente fez um
discurso criticando a decisão do Congresso, que contou com
apoio de governistas e oposicionistas. “Tem gente que acha
que ganha votos fazendo isso (apoiando a extinção do fator).
Na verdade, se o povo compreender o que significa, essas pessoas
podem não ganhar o tanto de votos que esperam”, disse, durante
a 13.ª Marcha dos Prefeitos a Brasília.
Paulo Bernardo enfatizou que a alteração,
criada por uma emenda do deputado Fernando Coruja (PPS), foi
aprovada de atropelo e sem reflexão. “Tínhamos feito uma proposta
interessante de negociação. Não foi para frente porque os próprios
deputados não quiseram.”
A sugestão que contava com o aval do governo
era baseada em uma fórmula conhecida como 85/95, que conta
a soma dos anos de idade do contribuinte na data da aposentadoria,
mais os anos de contribuição. Para as mulheres, o benefício
integral estaria garantido quando a soma chegasse a 85 e, para
os homens, a 95. A emenda aprovada pela Câmara e pelo Senado
garante o benefício integral apenas pelo tempo de trabalho
– para mulheres, 30 anos, e para homens, 35.
O especialista em Previdência, Renato
Follador, avalia que tanto o fim do fator previdenciário quanto
o uso da fórmula 85/95 são prejudiciais para as contas do país
a médio e longo prazo. “Isso nos colocaria na contramão da
história. Enquanto temos exemplos claros de países que estão
fazendo de tudo para controlar as aposentadorias, como Grécia,
Espanha e Argentina, nós estaríamos estimulando as pessoas
a parar de trabalhar precocemente.” Segundo ele, a decisão
pelo veto mostra que Lula tem consciência da situação.
Aumento
A escolha de manter ou não o reajuste
proposto pelos congressistas de 7,72% é mais complexo. Se o
índice for vetado, o governo será obrigado a fazer uma série
de manobras para chegar aos 6,14% defendidos por Mantega. “Se
vetar, cai tudo. Uma solução é dar o índice da inflação (3,55%)
por portaria e depois recompor o resto até nivelar nos 6,14%”,
declarou.
Segundo ele, o presidente não terá pressa
para tomar uma decisão. Ela deve ser anunciada até o fim de
semana, já que a medida provisória deixa de ter validade no
dia 1.º de junho. Durante o encontro de ontem com os ministros,
Lula teria deixado claro que adotará uma posição política,
mas que levará em consideração o passivo que deixará para o
próximo presidente.
fonte: Gazeta do Povo
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