Fim
de feriado para servidor estadual vai a votação
Comissão na Assembleia definirá amanhã se os funcionários públicos
terão folga apenas em datas comemorativas nacionais e estaduais,
como deseja o governador
O polêmico projeto do governador
Roberto Requião (PMDB) que acaba com os feriados municipais para
os servidores públicos do estado vai ser votado amanhã na Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa. Os
deputados governistas tentarão derrubar o parecer contrário que
a mensagem recebeu na última reunião da comissão, antes do feriadão
de carnaval.
Pela proposta, o estado do Paraná respeitará
apenas feriados estaduais e nacionais. Na prática, mesmo que
uma cidade do interior comemore um feriado municipal, com comércio,
repartições públicas e escolas fechadas, o funcionário público
estadual terá de cumprir expediente.
A
justificativa de Requião é que a administração pública não deve
seguir os feriados e comemorações de âmbito municipal porque
o Paraná é composto de 399 municípios e todos necessitam de atendimento
por parte do governo na prestação de serviços essenciais na área
de saúde, segurança e educação.
O argumento do governador não convence os sindicatos que reúnem os servidores
públicos. A presidente do Sindisaúde, Elaine Rodella, considera
a proposta inócua porque muitos servidores estaduais trabalham
em locais mantidos pelas prefeituras, que fecham nos feriados.
Na área de saúde, por exemplo, ela
diz que os servidores do estado trabalham em unidades de
saúde municipalizadas. “O funcionário vai ter de cumprir
expediente onde se os postos de saúde fecham?”, questiona
a dirigente sindical.
Outro problema apontado por Elaine
Rodella seria no setor de educação. “A escola de primeiro
grau estará fechada porque é da prefeitura e a de segundo
grau, que é do estado, pode até ser obrigada a abrir no feriado,
mas as crianças não vão deixar de acompanhar os pais em casa
para assistir a uma aula que pode ser dada no dia seguinte
ao feriado”, prevê Elaine Rodella.
Para a presidente do sindicato, o
governador está tendo uma preocupação que não é prioritária
diante dos grandes problemas que a administração pública
enfrenta, como o excesso de cargos comissionados. “Isso sim
deveria ser enfrentado, os cargos precisam ser extintos.
Criar uma lei que só gera problemas não trará benefício algum
para a população”, argumenta.
Rolo compressor
Indiferente às críticas dos servidores,
a ordem é aprovar o projeto. O líder do governo, Luiz Cláudio
Romanelli (PMDB), adiantou que vai orientar os aliados na
CCJ – que são maioria – para derrubar o parecer contrário
do deputado Reni Pereira (PSB), que considerou o projeto
inconstitucional.
Segundo Pereira, os feriados municipais
– comemoração de centenário de fundação de municípios e datas
religiosas – que foram declarados em lei municipal terão
de ser cumpridos pelas repartições da administração pública
estadual e federal direta, autarquias e fundações. No parecer,
o deputado argumentou ainda que a Lei Federal 9.093, de setembro
de 1995, determina que todos os municípios podem estipular
até quatro feriados religiosos, sendo um deles a Sexta-feira
Santa.
Romanelli disse que vai apresentar
um voto em separado na CCJ declarando o projeto constitucional.
“Quem regula o trabalho dos servidores é o estado. Os feriados
nacionais têm de ser respeitados, mas os feriados religiosos
municipais são considerados ponto facultativo. Se o estado
resolve não admitir o feriado trata-se de outra forma”, explicou
o líder do governo.
Para Romanelli, a mensagem é legal,
embora admita ter dúvidas sobre a eficácia ou alcance da
medida. “Mas se o Requião decidiu desta forma tenho que ser
leal e orientar a bancada a aprovar o projeto dele”, justificou.
Mesmo que receba parecer contrário
da CCJ, o projeto pode ser levado para votação no plenário
se houver pedido formal do líder do governo. A manobra é
permitida no Regimento Interno da Assembleia. Se aprovado
pela maioria dos 54 deputados, só dependerá da sanção do
governador para virar lei estadual.
Requião tentou cortar folga
no ano passado
A decisão do governador Roberto Requião (PMDB) de
criar uma lei acabando com os feriados municipais
é uma tentativa
de oficializar uma ordem dada ao funcionalismo
no ano passado que não foi cumprida. Nas vésperas
do feriado
municipal de Curitiba, em 8 de setembro, dia da
homenagem à padroeira da cidade Nossa Senhora da
Luz dos Pinhais,
Requião determinou que haveria expediente normal
para os cerca de 30 mil funcionários públicos estaduais
da
capital.
Os
servidores foram informados por meio de uma circular
que o feriado seria apenas na segunda-feira, Dia
da Independência, e no dia seguinte as repartições
públicas do estado funcionariam normalmente.
A justificativa do
governo na época foi de que Curitiba é o centro administrativo
do estado e a extensão do feriado municipal ao funcionalismo
estadual poderia atrapalhar o trabalho do governo
no interior do Paraná. O argumento era de que se
tratava apenas de mais um dia de trabalho e o governo
estaria atendendo ao interesse público. O fim do
feriado prolongado causou revolta entre os servidores.
Sindicatos de funcionários de empresas de economia
mista do governo conseguiram liminar na Justiça que
desobrigava o comparecimento ao trabalho.
Nas empresas estatais,
como Copel e Sanepar, as relações trabalhistas são
regidas pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas)
e os funcionários reinvidicaram pagamento de hora
extra ou folga em outro dia para compensar o trabalho
no feriado. O governador ameaçou descontar os salários
dos faltosos. No fim houve expediente, mas esvaziado.
Urgência
Logo após a polêmica,
em setembro, o governador enviou o projeto à Assembleia
Legislativa acabando com o feriado prolongado no
serviço público. Como está prestes a deixar o cargo,
pediu urgência na votação. A oposição já adiantou
que vai tentar barrar a mensagem. “É puro casuísmo
fazer essa lei, que é inconstitucional. O governador
só está fazendo isso porque baixou um decreto em
2009 que ninguém respeitou”, disse o deputado estadual
Reni Pereira (PSB), autor do parecer contrário ao
projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
(KC)
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fonte: Gazeta do Povo
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