Sindicatos estão
mais maduros e conseguem acordos melhores
No ambiente de crise, a ação sindical passou a ser mais micro,
buscando resultados favoráveis aos trabalhadores, mas considerando
as condições de cada empresa. As relações entre sindicatos
e empresas se consolidaram
Os acordos entre sindicatos e empresas para evitar demissões
são firmados em prazos cada vez menores e a chave para tal
êxito está na consolidação das relações entre os agentes e
do papel dos sindicatos como mediadores. A negociação empresa
a empresa a fim de se chegar a acordos mais favoráveis também
aos trabalhadores já ocorria, mas se tornou regra no meio
sindical para enfrentar os efeitos da atual crise.
E essa mudança na condução das negociações está ajudando
a garantir a manutenção do emprego, na avaliação do presidente
do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Salário (Ibret)
e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
da USP, Hélio Zylberstajn.
Atualmente, diz, os sindicatos e as centrais preocupam-se
mais com a atuação macro quando a economia está bem. "É
o momento de aproveitar o cenário para obter vantagens a todos
os trabalhadores". Já no ambiente de crise, compara,
a ação sindical passou a ser mais micro, buscando resultados
favoráveis aos trabalhadores, mas considerando as condições
de cada empresa.
"Isso é possível porque as relações entre sindicatos
e empresas se consolidaram. Hoje o sindicato brasileiro é
suficientemente maduro para saber com que empresa e que tipo
de acordo pode ser fechado e as empresas veem os sindicatos
como agentes que facilitam a negociação com os funcionários",
afirma Zylberstajn.
O coordenador de pesquisas da Fundação Instituto de Administração
(FIA/USP) e membro do conselho do Ibret, Wilson Amorim, observa
que as negociações caso a caso começaram a ocorrer em 1978,
mas só ganharam força recentemente. Nas crises de 1990 e 1998,
os sindicatos comumente fechavam portas de empresas, ministérios
e buscavam fechar acordos que abrangessem toda a base ou categoria.
"Até a década passada o empresariado ainda era reticente
em relação à atuação dos sindicatos. Hoje não há dúvidas de
que eles têm de participar das negociações. Essas relações
estão mais azeitadas", diz Amorim. Ele também considera
que a legitimação das centrais fortaleceu a estrutura sindical
e tem contribuído para que os sindicatos, ainda que ajam individualmente,
mantenham uma linha de ação comum.
Para a gerente de recursos humanos da usina Antônio Ruette
Agroindustrial, Josiane Pagotto Prudencio, a relação mais
estreita com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Catanduva
e o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes de Jaboticabal
e Região foi fundamental no processo de ajuste da empresa.
A usina emprega 3.150 pessoas, já teve perdas de faturamento
por conta da queda dos preços do açúcar na safra passada e
teve dificuldades para acessar crédito no fim do ano.
Sem recurso, a empresa decidiu reduzir o plantio de 3 mil,
para 1 mil hectares. "A empresa estava sem caixa e ia
demitir 500 pessoas", diz. Em negociações com os sindicatos,
a empresa optou pela suspensão temporária dos contratos de
trabalho de 347 funcionários, por dois meses. No período,
eles farão cursos de qualificação para aprender a operar máquinas
que utilizarão na próxima safra. "O apoio dos sindicatos
foi fundamental para convencer os trabalhadores de que essa
era a melhor medida no momento", afirma Josiane.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes de
Jaboticabal, Rodrigo Servidone, afirma que a melhor solução
para o momento é negociar caso a caso. A base do sindicato
possui 5 mil trabalhadores.
Em dezembro, houve 300 demissões e até agora, duas empresas
negociaram redução de salário e de jornada, atingindo 700
pessoas. Para o secretário geral da Força Sindical, João Carlos
Juruna Gonçalves, e o secretário-geral da CUT/SP, Adi dos
Santos Lima, as negociações individuais são a alternativa
mais eficaz para garantia do emprego nos próximos 90 dias,
até que conheça o efeito real da crise. (Fonte: Valor Online)
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