Perícia
no INSS só em dezembro
Greve dos médicos peritos completa um mês com transtornos para
a população. Espera por consulta passou de 30 dias para quatro
meses em Curitiba
Os segurados
que necessitam de perícia médica para receber algum tipo de
benefício da Previdência Social estão sofrendo para conseguir
marcar uma consulta no Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS) no Paraná. A greve nacional dos peritos médicos, que
completa um mês hoje, fez com que o tempo de espera na fila
saltasse de 30 para 120 dias em algumas unidades de Curitiba
e do interior do estado, segundo dados da Associação Nacional
dos Médicos Peritos (ANMP). Nas 11 sedes da capital, por exemplo,
as consultas estão sendo marcadas só para dezembro.
De acordo com a ANMP, 95% dos 5,4 mil
profissionais no Brasil aderiram à paralisação. Eles estão
fazendo rodízio para atender os usuários, já que o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) determinou que 50% do atendimento
seja mantido. Dos casos atendidos pelo INSS, 54% dependem de
perícia médica. Segundo a Superintendência do INSS no Sul do
Brasil – responsável pelo orgão no Paraná –, oito dos 38 médicos
peritos de Curitiba estavam em greve até ontem. A informação
é contestada pela ANMP, que diz que 24 peritos aderiram ao
movimento.
No interior, a situação é um pouco mais tranquila.
Em Ponta Grossa, os cinco médicos da agência não aderiram ao
movimento e em Cascavel, onde há 12 médicos, oito pararam – novas
consultas estão sendo marcadas só a partir da segunda quinzena
de agosto. Em Maringá e Londrina, apenas um médico parou em cada
unidade. O tempo médio de espera nas duas cidades é de 50 dias.
Segundo o INSS, em todo o Brasil existem cerca de 5,4 mil peritos trabalhando
em 1.132 agências localizadas em 978 municípios. Por causa
da greve, apenas 70% das 35 mil perícias realizadas por dia
no país estão sendo feitas. No Paraná, das 1.319 consultas
médicas marcadas para ontem, 1.111 foram feitas. Destas, 270
em Curitiba, o equivalente à metade do que estava agendado.
Desespero
Um dos prejudicados com a situação do
INSS é o marmoreiro curitibano Estéfano Czaicofski, 43 anos.
Vítima de um acidente de trânsito, ele passou por três cirurgias
e já teve a perícia desmarcada duas vezes. Na última, agendada
em março para o último dia 30 de junho, Czaicofski foi surpreendido
com a informação de que a consulta só será feita em 27 de setembro.
“Isso é um absurdo, um desrespeito completo”, afirma.
O marmoreiro conta que denunciou o caso
ao Ministério Público Federal. “Espero que eles consigam resolver
o problema. Não posso ficar sem o benefício”, desabafa ele,
que, no momento, depende do salário de R$ 700 da esposa para
sobreviver.
Outro caso semelhante aconteceu em Paranaguá,
no litoral do estado. O professor de artes marciais Marcelo
Rodaczynski, 29 anos, que sofreu um acidente de carro, não
foi atendido por causa da greve. “É injusto que o atendimento
não esteja acontecendo. Os principais prejudicados são os trabalhadores
que pagam os impostos em dia”, protesta Camilla Rodaczynski,
sobrinha do professor.
O médico perito Fábio Fontes Faria, delegado
suplente da ANMP no Paraná e representante do comando de greve,
diz que é compreensível a revolta dos segurados. “Tentamos
minimizar ao máximo o impacto no atendimento, mas necessitamos
da compreensão de todos para nossa causa”, afirma.
O INSS não quis se manifestar sobre a
greve. Por meio de uma nota da assessoria de comunicação, o
orgão orienta para que os segurados que têm perícias marcadas
compareçam às agências do INSS em que os exames tinham sido
agendados. Somente no local será possível saber se o perito
está trabalhando ou aderiu à greve, e não há como ter essa
informação por meio da central telefônica 135 da Previdência
Social. O INSS afirmou que, caso o perito esteja parado, a
perícia será remarcada na própria agência. Essa é a terceira
greve dos médicos peritos do INSS em três anos. Uma reunião
entre a categoria e a direção deve ocorrer hoje de manhã, em
Brasília.
Reivindicações
Saiba quais são as principais lutas da categoria, cuja
paralisação nacional completa hoje 30 dias:
Mais segurança
A falta de segurança é
a principal queixa dos peritos. Segundo dados do sindicato
nacional, foram registradas 72 agressões físicas em
2009. Alguns casos chegaram ao extremo. Dois peritos
foram mortos por usuários entre 2006 e 2007 em Minas
Gerais. Em 2007, um perito foi ferido com sete facadas
por um usuário em Santos. Em março deste ano, um usuário
descontente com o laudo do perito, que negou o auxílio-doença,
pôs fogo na agência do INSS em Cascavel, no Oeste do
estado. A unidade ficou uma semana fechada. Conforme
o perito médico Dagoberto Pina, a situação foi normalizada
com o reforço na segurança.
Contratações
No Paraná existem 173
médicos peritos em atividade. Segundo a categoria,
seria necessário pelo menos o dobro para atender a
toda a demanda.
Condições de trabalho
Melhoria nas salas de
consulta e redução da carga horária de 40 para 30 horas
semanais.
Consultas
O fim da nova determinação
que permite ao segurado que teve um parecer de perícia
negativo remarcar o exame quantas vezes quiser. Antes,
esse segurado só poderia refazer a perícia depois de
30 dias.
Fonte: Associação Nacional
dos Médicos Peritos
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