Fiscalização
tecnológica transforma IR em “Big Brother tributário”
Informações do contribuinte são comparadas
com pelo menos outros dez informes,enviados por bancos,empresas
e outras instituições públicas e privadas. Qualquer deslize
pode levar à malha fina
Receita Federal armou-se neste ano com garras
de leão e olhos de lince para vigiar os cerca de 25 milhões
de brasileiros que, até 30 de abril, precisam enviar sua declaração
anual de Imposto de Renda Pessoa Física. O contribuinte que
omitir dados, ou informar algo incorreto, tem grandes chances
de ir parar na malha fina, e arcar com uma multa que pode
chegar a 150% do valor devido inicialmente. O prazo para entrega
dos dados começou ontem.
O avanço da tecnologia faz com que a prestação
de contas fique mais rigorosa ano a ano. Hoje, o sistema da
Receita Federal tem condições de cruzar praticamente todos
os campos do documento, inclusive com outras fontes. O resultado
é uma espécie de “Big Brother tributário”, que é capaz de
enxergar o cidadão a partir de vários ângulos diferentes e
foi programado para procurar incosistências entre as informações
disponíveis. “O contribuinte não pode ter a ilusão de que
rendimentos esquecidos ou informados erroneamente passarão
despercebidos. Ele tem de estar consciente de que não existem
mais brechas”, alerta a advogada tributarista Betina Grupenmacher,
professora da UFPR e diretora do Instituto Brasileiro de Estudos
Tributários (Ibet).
Saiba mais
Confira as regras para a declaração de Imposto de Renda Pessoa
Física 2009Confira a lista de documentos necessários para
o preenchimento da declaração
Recibo não é mais obrigatório
Receita Federal vai criar malha fina para empresas
Entrega em atraso leva a multa
Consultor vai responder a perguntas
O presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis
do Paraná (Sescap PR), Mário Elmir Berti, também é categórico:
“não passa nada.”
Os dados de cada contribuinte são comparados
eletronicamente com pelos menos outros dez informes, enviados
por bancos, empresas e outras instituições públicas e privadas,
estima o gerente executivo da Ernst&Young, Frederico Good
God. O primeiro e mais óbvio é o cruzamento dos dados de rendimentos
enviados pelo declarante com aqueles informados pelas fontes
pagadoras. Mas, há muito mais.
As informações sobre compras com cartão de
crédito, por exemplo, são informadas pelas instituições financeiras
ao Banco Central, que envia os dados também para a Receita
Federal. Também vêm dos bancos os dados sobre o saldo bancário
no último dia útil do ano. “Muita gente não checa a informação
e coloca o que lembra, um número aproximado. Isso, sem dúvida,
é motivo para cair na malha fina”, alerta o gerente da Ernst&Young.
Todas as informações referentes às deduções
também são cruzadas com os dados declarados pelos beneficiários
– escolas, hospitais e também profissionais de saúde. “Era
comum, no passado, que as pessoas declarassem despesas médicas
fictícias, ou mesmo com valores maiores. Hoje, não existe
mais espaço para isso”, diz Berti, do Sescap. “Os números
serão comparados com a declaração do médico e, se houver divergência,
o contribuinte terá que apresentar os recibos para a Receita.”
Outro erro comum é não informar os rendimentos
recebidos pelos dependentes ou referentes a aluguéis. “A imobiliária
é obrigada a passar os dados para a Receita Federal. O mesmo
vale para compra de imóveis. O próprio cartório precisa passar
as informações quando faz um registro”, explica o consultor
da Ernst&Young.
Correção
Assim que terminar o prazo para envio dos
dados, a Receita Federal começará o processamento das declarações.
No site do órgão (www.receita.fazenda.gov.br), o contribuinte
poderá saber se foi encontrada alguma divergência e, se for
o caso, corrigir a informação.
A Receita Federal tem até cinco anos para
chamar o contribuinte a prestar esclarecimentos sobre a sua
declaração. “Por isso é fundamental guardar todos os documentos
e recibos durante este período”, explica Frederico Good God.
Caso a declaração conste no site com algum divergência mas
o contribuinte tenha certeza dos dados, o consultor recomenda
paciência. “Neste caso, é preciso esperar a notificação da
Receita, porque ela também vai checar o outro dado.”
|