Redução
da jornada: DIAP revela tendência da comissão especial
Dos 16 titulares da comissão especial, 11 se declaram favoráveis,
dois são contra e outros 2 disseram não ter ainda posição
formada sobre a proposta de redução da jornada de trabalho
para 40 horas semanais, em discussão na Câmara. A proposta
passa fácil na comissão
A tendência de votação na comissão especial da Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 231/95, dos ex-deputados e atuais
senadores Inácio Arruda (PCdoB/CE) e Paulo Paim (PT/RS), que
dispõe sobre a jornada máxima de trabalho de 40 horas semanais,
foi tema de pesquisa realizada pelo DIAP nesta semana. O colegiado,
que tem conduzido os trabalhos de maneira lenta, conta com
a maioria de seus integrantes a favor da redução da jornada
laboral. A pesquisa ouviu apenas os titulares do colegiado.
A comissão especial, criada em 25 de fevereiro de 2008, e
instalada de fato somente no dia 16 de dezembro, não recebeu
propostas de alteração no prazo regimental.
Composta de 16 deputados titulares e igual número de suplentes,
a comissão disporá de 40 sessões para concluir os trabalhos.
Nesse prazo, deve realizar audiências e votar o parecer do
relator, deputado Vicentinho (PT/SP), que é a favor da matéria.
O presidente do colegiado, deputado Luiz Carlos Busato (PTB/RS)
considera "inevitável" que os debates sejam afetados
pela crise financeira mundial. Porém, acredita que esse fator
terá influência limitada, pois a comissão pretende elaborar
uma lei "definitiva", em vez de dar apenas uma resposta
ao período que estamos enfrentando. Ele já havia se posicionado
contrário à redução da jornada.
Favoráveis
O 1º vice-presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT/RS),
além de declarar apoio à redução da jornada, enfatizou ser
autor de um projeto de lei que estabelece em 40 horas semanais
a atividade laboral sem redução de salário. "A proposta
da redução da jornada está conectada com o que tem ocorrido
no mundo, de reestruturação da produtividade, garantia de
melhor qualidade de vida para os trabalhadores e a possibilidade
de geração de novos postos de trabalho. O Brasil deve avançar
nesse debate".
Maia também sinalizou para dificuldades que o tema poderá
enfrentar no Parlamento, em especial, por conta de forças
e pensadores que entendem e defendem que em momento de crise
nada deve ser mudado ou alterado. "Não devemos, no entanto,
abandonar a idéia da redução da jornada, mas assumir inclusive
a possibilidade de que seja efetivada via lei ordinária".
Ao declarar-se favorável à aprovação da redução da jornada,
o deputado Wilson Braga (PMDB/PB) reforçou o entendimento
de que a matéria é importante, principalmente agora com o
agravamento da crise financeira mundial.
Para o líder do PCdoB, Daniel Almeida (BA), o desafio é levar
a matéria para o plenário da Câmara. Em relação à tendência
dos demais deputados que não participam da comissão especial,
Almeida verifica oscilações, "em certo momento favorável
e em outros com refluxo".
Para o deputado Roberto Santiago (PV/SP), que trabalha para
aprovação da matéria, o debate sobre o tema já foi feito.
Agora, com a queda do Produto Interno Bruto (PIB) e a retração
na economia internacional, "temos que nos preparar para
as pressões externas".
Quem também destacou a importância e urgência de aprovar
a redução da jornada foi o líder do Partido dos Trabalhadores,
Cândido Vaccarezza (SP). Durante discussão da pauta de votações
do plenário, o parlamentar disse que o PT, o Governo e toda
bancada de apoio na Câmara estão empenhados em aprovar a redução
da jornada para gerar renda e novos empregos. Ele não participa
da comissão especial.
Pressão no Congresso
O líder comunista também chamou atenção para o fato de que
o tema é complexo e os interesses variados. Para Daniel Almeida,
faz-se necessária muita pressão da sociedade para que a redução
da jornada de trabalho para 40 horas semanais seja aprovada
na Câmara dos Deputados. O tema "só conquistará um espaço
prioritária na Casa se houver muita pressão de fora para dentro".
Para o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), que também
é a favor da redução da jornada, o momento é favorável e o
movimento sindical deve pressionar para que a atividade laboral
seja reduzida. A mobilização e pressão devem ser intensificadas
no Congresso, segundo o deputado.
Paulinho, que é presidente da Força Sindical, informou que
na reunião de líderes com o presidente da Câmara, na última
terça-feira (10), ficou acertado como prioridade 'número um'
para a votação de cinco matérias, entre elas, a redução da
jornada de trabalho.
Produção não será prejudicada
Conhecedor do tema, Paulinho citou o caso de uma fábrica de
automóveis da Volkswagen, que nos últimos dezenove anos ampliou
a capacidade de produção com a utilização de novas tecnologias,
mas a jornada de trabalho permanece inalterada e o salário
não acompanhou o ganho de produção.
Quem também se posicionou quanto ao aspecto produtivo e a
jornada laboral foi o deputado Iran Barbosa (PT/SE), que entende
que a redução da jornada não afeta a produção industrial nos
dias hoje. O parlamentar defende a aprovação da PEC por ser
"um instrumento capaz de gerar novos postos de trabalho".
Barbosa também se mostrou preocupado com a lentidão dos trabalhos
da comissão especial, que tem encontrado dificuldade de se
reunir.
Jornada para mulheres
A deputada cearense Gorete Pereira (PR/CE) defende a redução
da jornada sem redução de salário. Para ela, o momento de
crise é que influencia a votação da matéria, tendo como base
que a proposta abriria mais postos de trabalho. "Agora,
mais do que nunca, é necessário reduzir a jornada", avalia.
A parlamentar, que compõe a bancada feminina da Casa trabalha
pela redução da jornada extensiva a todos os trabalhadores,
mas, se isso não for possível, buscará uma saída para reduzir
a jornada laboral apenas para as mulheres, hoje mais de 50%
da população brasileira. "Se não para os homens, pelo
menos para as mulheres", disse a deputada, lembrando
as várias jornadas diárias enfrentadas pelas mulheres.
Via projeto de lei
Ao declarar apoio à aprovação da redução da jornada, o deputado
Rodrigo Rollemberg (PSB/DF) sinalizou que o estudo e entendimento
do tema seja tratado via projeto de lei, sem a necessidade,
portanto, de mudança na Constituição.
Segundo Rollemberg, a aprovação de um projeto de lei é mais
simples e mais fácil de ser concluída nas duas Casas do Congresso
- Câmara e Senado - já que uma PEC, para ser incluída como
emenda constitucional na Carta Magna necessita de aprovação
nas comissões de Constituição e Justiça, e na especial (mérito),
bem como em dois turnos de votação tanto na Câmara, quanto
no Senado. Outro empecilho é a necessidade do quorum qualificado
de três quintos ou 308 votos de deputados e de 41 senadores
para a aprovação da matéria.
Rollemberg disse ainda que a intenção dos líderes e do presidente
da Câmara é votar a redução da jornada entre a 2ª quinzena
de abril e a 1ª semana de maio, após a desobstrução da pauta
do plenário.
Entre os projetos que dispõem sobre a redução da jornada
há o PL 4.653/94, do senador Paulo Paim. À proposição foram
anexadas outras 32 matérias correlatas.
O projeto tem parecer favorável do relator na Comissão de
Trabalho, deputado Vicentinho, mas em função de novo despacho
deverá ser analisada antes pela Comissão de Desenvolvimento
Econômico, Indústria e Comércio. Neste colegiado está pendente
de indicação de relator. Esta foi uma manobra protelatória,
a fim de impedir a aprovação do projeto na Comissão do Trabalho.
Compensação
"Somos a favor da redução, essa é uma posição do PPS",
afirmou o deputado Arnaldo Jardim (SP). Mas o deputado, como
toda a bancada, sabe das dificuldades da apreciação da matéria,
principalmente na atual conjuntura.
Jardim declarou-se aberto ao debate de algum tipo de compensação
tributária para amenizar as despesas da redução da jornada,
"para que não signifique simplesmente custo". O
parlamentar citou como exemplo os custos do 'Sistema S', um
tabu para os empresários.
O deputado carioca Deley (PSC) também defende a proposta,
"sou favorável". Mas argumenta que no atual momento
econômico é necessário debater o assunto juntamente com reformulação
na Consolidação das Leis do Trabalho. "Podemos aproveitar
e discutir as leis trabalhistas".
Contrários à redução
"A partir da crise, discutir redução da jornada é inoportuno",
argumenta o deputado Fernando Chucre (PSDB/SP). Para o parlamentar,
o momento que o País desfrutava de bons índices econômicos
a redução da jornada poderia ter sido efetivada. É necessário
frisar, no entanto, que PEC 231 tramita na Casa desde 1995
e nunca recebeu a atenção devida dos parlamentares, em sua
maioria, empresários.
De acordo com Chucre, a possibilidade de criação de novos
postos de trabalho é impossível neste momento de retração
econômica. O deputado defende a flexibilização das leis trabalhistas,
o que, segundo ele, possibilitaria a "negociação setor
por setor, tanto da jornada laboral, quanto dos salários".
Seguindo a linha da flexibilização de direitos trabalhistas,
o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
deputado Aramando Monteiro Neto (PTB/PE), apresenta como alternativa
para retomada da geração de postos de trabalho a diminuição
dos encargos trabalhistas, a queda da taxa Selic e do 'spread'
bancário; a desoneração da atividade produtiva via redução
de impostos e encargos sociais e a dilatação dos prazos de
seu recolhimento, além do estímulo a novos investimentos públicos
e privados, bem como o corte de gastos com custeio.
Armando Monteiro Neto não participa da comissão especial,
mas sua opinião é relevante, pois é o representante do capital
produtivo no Parlamento.
Os recordes de produção e a alta lucratividade alcançada
ao longo dos últimos seis anos não têm sido suficientes para
garantir a manutenção dos empregos e com redução da jornada
garantir novos postos de trabalho. A insistência do patronato
é socializar os prejuízos e maquiar os excelentes ganhos,
o que contribui para concentração de renda e sufoca o desenvolvimento
da economia.
Indecisos
A deputada Rita Camata (PMDB/ES), que durante a Constituinte
votou a favor da jornada de 40 horas, declarou que pretende
debater mais o tema. "Não tenho uma questão fechada",
disse a parlamentar.
Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB/SP), "a comissão
vem em um momento oportuno". O fato de o mundo enfrentar
uma crise econômica possibilita, na visão do parlamentar,
uma análise mais precisa sobre o assunto e, se for o caso,
uma decisão mais coerente com a realidade.
Ainda segundo Sampaio, "temos que defender o trabalhador,
mas também o empregador". Para ele, o importante é a
não concepção de uma idéia fixa, mas a discussão das várias
possibilidades existentes. "Não tenho uma idéia pré-concebida
sobre o tema, quero debater", garantiu.
O deputado José Otávio Germano (PP/RS), também tem incertezas
em relação ao tema e prefere aguardar os debates que ocorrerão
na comissão especial, onde ocupa a terceira vice-presidência.
Debates
Existe uma série de requerimentos de pedido de audiência pública
nos estados. O objetivo é que os parlamentares observem e
conheçam os cenários do mundo do trabalho nas cinco regiões
do Brasil. O presidente do colegiado já sinalizou a realização
de audiências na Câmara e, em seguida, nos estados.
O deputado Vicentinho tem chamando atenção para importância
dos debates, já que pesquisas recentes apontam a geração de
mais de dois milhões de novos postos de trabalho caso a redução
da jornada seja aprovada.
Na questão social, a redução das horas de trabalho cria oportunidade
de mais lazer, possibilidade de mais dedicação ao estudo e
à qualificação profissional, fundamentais para a manutenção
do emprego nesse cenário cada vez mais competitivo e em franca
modernização.
Tendência de votação da PEC 231/95, na comissão especial:
Parlamentares favoráveis (11)
Arnaldo Jardim (PPS/SP)
Deley (PSC/RJ)
Daniel Almeida (PCdoB/BA)
Gorete Pereira (PR/CE)
Iran Barbosa (PT/SE)
Marco Maia (PT/RS)
Paulo Pereira da Silva (PDT/SP)
Roberto Santiago (PV/SP)
Rodrigo Rollemberg (PSB/DF)
Vicentinho (PT/SP)
Wilson Braga (PMDB/PB)
Parlamentares contrários (2)
Fernando Chucre (PSDB/SP)
Luiz Carlos Busato (PTB/RS)
Parlamentares indecisos (3)
Carlos Sampaio (PSDB/SP)
Rita Camata (PMDB/ES)
José Otávio Germano (PP/RS)
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