Comissão
vai definir pauta de debates sobre redução da jornada
A composição da comissão especial sobre a
redução da jornada de trabalho (PEC 231/95) será completada
nesta terça-feira (10), quando serão escolhidos seus três
vice-presidentes. O presidente do colegiado, deputado Luiz
Carlos Busato (PTB-RS), espera definir então a pauta de discussões
e as pessoas que serão ouvidas em audiências públicas. O relator
dos trabalhos será o deputado Vicentinho (PT-SP).
Busato considera "inevitável" que
os debates sejam afetados pela crise financeira mundial. Porém,
ele acredita que esse fator terá influência limitada, pois
a comissão pretende elaborar uma lei "definitiva",
em vez de apenas dar uma resposta ao período de crise.
"A redução da jornada de trabalho vem
sendo discutida há muito tempo, não é fruto da crise. Por
isso, temos de saber diferenciar o momento atual de uma legislação
que deve ser para toda a vida", ressaltou.
Argumentos da CNI
Entre as entidades que serão ouvidas, está a Confederação
Nacional da Indústria (CNI), que reúne os principais empregadores
do País. A CNI considera que a crise impede o atendimento
à proposta das centrais sindicais de diminuição da jornada
com preservação dos níveis de salário, pois isso provocaria
aumento linear de 10% no custo do trabalho, afetando todas
as empresas, independentemente de porte, setor ou região.
Segundo o presidente da CNI, deputado Armando
Monteiro (PTB-PE), a alternativa para permitir a retomada
da geração de postos de trabalho é a desoneração dos encargos
trabalhistas, além do próprio crescimento econômico.
Entre as medidas que permitiriam a manutenção
do nível de emprego, a CNI lista melhores condições de crédito
para empresas e consumidores, com queda da taxa Selic e dos
spreads bancários; desoneração da atividade produtiva, por
meio da diminuição de impostos e encargos sociais e da dilatação
dos prazos de recolhimento; e estímulo a novos investimentos
privados e ampliação do investimento público, com corte de
gastos de custeio.
Quanto à negociação entre sindicatos e empresas,
Monteiro defende o uso de "instrumentos legais que permitam
adequação transitória da disponibilidade de pessoal à queda
da demanda, buscando soluções para evitar demissões".
Entre esses instrumentos, além da própria redução da jornada
com salários menores, a CNI cita o banco de horas; as férias
coletivas; e a suspensão do contrato de trabalho com bolsa
para qualificação.
Sindicalistas
No último dia 7 de novembro, porém, a CUT aprovou uma resolução
em direção contrária à proposta da CNI, reivindicando a "redução
constitucional da carga máxima de trabalho para 40 horas semanais
sem redução dos salários e com limitação das horas extras"
como uma alternativa para enfrentar a crise.
O presidente nacional da CUT, Artur Henrique,
rebateu em artigo publicado em maio a tese de que a diminuição
da jornada diminuiria a competitividade da indústria brasileira,
prejudicando as exportações do País. "É mentira",
diz Artur Henrique, argumentando que nem o Fórum Econômico
Mundial de Davos considera os baixos salários como fator positivo
na hora de medir a competitividade de uma economia nacional.
"Nada como esgrimir um ícone do adversário como forma
de desarmar seu discurso", argumenta.
A favor da redução da jornada, segundo ele,
falam os números do trabalho no Brasil. Nos últimos 15 anos,
a produtividade da economia brasileira cresceu 150%, segundo
tese de doutorado do economista Cássio Calvete. "Há,
portanto, uma enorme camada de gordura no item competitividade",
observa Artur Henrique, sustentando que o corte da jornada
em quatro horas, segundo essa tese e com base em números da
própria CNI, elevaria os custos da mão-de-obra em apenas 1,99%
- índice semelhante à elevação que a produtividade vem registrando,
por semestre, ao longo dos anos 2000. "Isso quer dizer,
simplesmente, que esse custo seria absorvido em apenas seis
meses", conclui.
Fonte: Agência Câmara
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