78%
dos juízes trabalhistas são contra demissão imotivada, revela
pesquisa
Empresas que demitirem sem prestar contas
à Justiça deverão enfrentar problemas, diz presidente da Anamatra.
É o que mostra o caso da Embraer. Os juízes defendem ainda
a valorização dos sindicatos, com seu fortalecimento
Uma pesquisa de opinião realizada entre juízes trabalhistas
revela que as empresas que demitirem sem prestar contas à
Justiça deverão enfrentar problemas. Segundo dados levantados
pela Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra),
nada menos do que 78% dos juízes trabalhistas são contra a
possibilidade de demissão imotivada.
A pesquisa mostra ainda que os juízes são
favoráveis ao fortalecimento dos sindicatos e rechaçam o livre
funcionamento do mercado de trabalho, além de serem contra
as restrições criadas pela nova lei de falências à sucessão
do passivo trabalhista.
Recentemente, grandes empresas que promoveram
cortes devido a complicações financeiras e queda nas vendas
viram as demissões suspensas na Justiça do Trabalho sob a
alegação de que antes é necessária a justificação dos motivos
e negociação prévia com o sindicato.
Resistência
Para o presidente da Anamatra, Cláudio Montesso, a pesquisa
revela que as empresas que demitirem sem antes prestarem contas
podem contar com a resistência dos juízes trabalhista. "A
preservação do emprego é uma preocupação dos juízes. É preciso
mecanismos para que a demissão não seja calcada apenas na
decisão do empregador", diz o juiz.
Segundo Montesso, há uma tendência de as
empresas acharem que a demissão é uma decisão meramente econômica,
mas, principalmente no caso das demissões em massa, trata-se
de um problema social.
A Constituição Federal garante que a atividade
empresarial também tem uma função social, diz o juiz, o que
garante que não há necessidade de uma lei específica para
dizer que as demissões precisam ser justificadas e negociadas.
No momento, o Brasil está em um impasse quanto
à assinatura da Convenção 158 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), pela qual toda demissão deve ser justificada.
Aprovada pela presidência da República, a norma encontrou
resistência no Congresso Nacional. Segundo advogados, sem
a aprovação dessa convenção, não é possível impor restrições
à demissão. "Mas há controvérsias, e são bem fundamentadas",
afirma Montesso.
Fortalecimentos dos sindicatos
Outros pontos da pesquisa revelam que os juízes valorizam
o fortalecimento dos sindicatos. Para 63% deles, a negociação
coletiva é o mecanismo que deve ser mais valorizado na hora
de se fixar as condições de uso e remuneração do trabalho,
à frente do Estado, com 30% das preferências, e do livre mercado,
com apenas 4% dos votos.
Outra constatação da pesquisa é a dificuldade
que a nova lei de falências terá para evitar transferência
do passivo trabalhista das empresas quebradas para aquelas
que adquirirem seus ativos. Nada menos de 83,9% dos juízes
defendem a sucessão trabalhista nos casos de falência ou de
qualquer outro tipo de extinção de empresa.
Fonte: Valor Econômico
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