Namoro
entre funcionários não pode ser proibido, dizem advogados
Entretanto, beijo, abraço ou relação sexual no expediente dão justa
causa.
Funcionário que for dispensado por namorar colega pode pedir dano
moral.
O namoro entre funcionários não pode ser proibido pelas
empresas, de acordo com advogados trabalhistas. Entretanto,
beijos, abraços, demonstrações de carinhos mais explícitas
ou relação sexual
são proibidas durante o expediente - se um casal for flagrado
pode ser demitido por justa causa. Como os relacionamentos não podem ser impedidos
formalmente (determinaçao registrada em manuais de procedimento,
murais internos ou em contratos de trabalho), algumas empresas
fazem a determinação de forma implícita - conversa informal entre
chefe e subordinado.
Advogados
ouvidos pelo G1 afirmam que proibir os relacionamentos amorosos
pode ser caracterizado como discriminatório, além
de ser inconstitucional, já que fere o direito à intimidade.
“A proibição extrapola o poder disciplinar
do emprego. O que o empregador pode impedir são atos como
beijos e carícias no ambiente de trabalho”, diz Eli Alves
da Silva, presidente da Comissão de Direito Trabalhista da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
"O funcionário que for dispensado por namorar um colega de trabalho pode entrar
com uma ação na Justiça e pedir indenização por dano moral", explica a advogada trabalhista Juliana Borges.
Sobre a prática de algumas empresas transferirem
o funcionário de departamento porque ele namora um colega daquele
setor, a advogada afirma que o empregador não pode adotar esse
procedimento com a alegação de que eles têm um relacionamento
amoroso.
Já no caso daqueles que passam dos limites
dentro da empresa, o advogado trabalhista Marcos César Amador
Alves diz que a justificativa para mandar embora por justa causa
é a chamada incontinência de conduta, prevista na legislação
trabalhista, que significa tomar atitudes exageradas e que não
condizem com o ambiente de trabalho, como é o caso de beijos,
abraços ou até relação sexual.
"Em
hipótese nenhuma deve-se demonstrar qualquer forma de
carinho. Na
dúvida de
como agir, vale o bom senso"
Renato Grinberg |
"Não faz sentido a empresa
interferir tanto na vida do funcionário a ponto de ditar
regra na vida pessoal dele"
Alessandra Tomelin |
'Inevitável'
Além de não poder ser proibido, o relacionamento amoroso entre
colegas do trabalho é inevitável, diz o professor do Instituto
de Psicologia da USP, Ailton Amélio da Silva, especialista
no assunto.
De acordo com ele, o motivo é que no trabalho
as pessoas têm um grau de compatibilidade maior, já que gostam
de coisas parecidas e têm níveis educacional e social equivalentes.
Além disso, os colegas de trabalho ficam muito tempo juntos,
saem para almoçar e acabam se conhecendo melhor. “As pessoas
ficam todo dia repetindo as chances [de dar certo], uma hora
a coisa rola”, diz.
O professor revela ainda que, geralmente, os
relacionamentos entre colegas da empresa são mais criteriosos
e têm maiores chances de evoluir. “Ninguém vai ficar com alguém
do trabalho só por atração, já que terá de olhar na cara do outro
no dia seguinte”, diz.
De acordo com pesquisas realizadas por ele, cerca de 40% dos namoros ocorrem
entre pessoas que já se conhecem, o que inclui os romances iniciados
na empresa.
Foi o que aconteceu com a administradora Karina
Barbeta Ramos, de 27 anos, e o técnico de produção Adriano Kmita,
de 28 anos. Os dois se conheceram há três anos, em uma obra da
construtora para a qual trabalham até hoje, e começaram a namorar.
Hoje são noivos e pretendem se casar no ano que vem.
“Éramos amigos e almoçávamos juntos. Um dia
ele me chamou para ir ao cinema e acabou rolando”, revela Karina.
Kmita também tem sua versão da história. Ele
conta que, depois de seis meses trabalhando com Karina, começou
a olhar a colega “de um outro jeito”.
“É muito bom [namorar alguém do trabalho],
não tenho o que reclamar. Todo mundo admira nosso relacionamento
na empresa e nos perguntam como a gente não enjoa um do outro”,
conta Kmita. Isso porque os dois tomam café juntos, almoçam juntos
e, de vez em quando, ainda vão para a casa um do outro no final
do dia. “É uma questão de costume”, diz Karina.
Etiqueta
O casal, porém, tomou todos os cuidados para que o namoro não
interferisse ou prejudicasse o trabalho. Assim que perceberam
que o relacionamento estava evoluindo, ambos avisaram os chefes.
Como os dois trabalham em departamentos diferentes – ela no
setor de suprimentos e ele no de obras -, não tiveram problemas.
“Foi quando oficializamos tudo”, conta Kmita.
O casal afirma que não namora dentro da construtora
e toma cuidado para evitar qualquer tipo de situação constrangedora.
“Dentro da empresa somos colegas de trabalho e mantemos uma relação
bem formal. Até nas festas da empresa a gente mantém a postura
profissional”, revela Karina.
Bom senso
A postura do casal é a recomendada por especialistas de recursos
humanos. Para Renato Grinberg, diretor da Trabalhando.com.br,
o namoro deve ficar para fora do local de trabalho. “Em hipótese
nenhuma deve-se demonstrar qualquer forma de carinho. Na dúvida
de como agir, vale o bom senso”, afirma.
Se mesmo assim o profissional ficar angustiado
sobre o que fazer, Grinberg dá a dica para o funcionário levar
a dúvida ao departamento de recursos humanos de uma forma hipotética,
sem dizer que o caso está acontecendo com ele mesmo, já que
cada empresa tem um procedimento.
Para Alessandra Tomelin, gerente de RH da empresa Vagas Tecnologia, cabe ao funcionário
compreender a cultura da empresa e se posicionar de acordo com
ela. “Quando o profissional entra na empresa ele tem que compreender
quais são as regras”, diz.
Ela acredita, porém, que não há como evitar
os relacionamentos. “Não faz sentido a empresa interferir tanto
na vida do funcionário a ponto de ditar regra na vida pessoal
dele”, diz.
Relação entre chefe e subordinado
De acordo com os especialistas, a grande polêmica ocorre quando
a relação surge entre chefe e subordinado ou funcionários da
mesma equipe, o que pode resultar em vantagens ou desvantagens
para o casal.
A rede de supermercados Walmart, por exemplo,
costuma transferir os funcionários de setor quando isso ocorre.
”Dependendo das funções, o relacionamento pode atrapalhar. Outros
colegas podem se sentir menos atendidos pela chefia e achar que
o outro tem tratamento diferenciado por ser namorado. Nesses
casos, a empresa pode tomar a decisão de sugerir, para o bem
comum, a transferência da pessoa”, disse o diretor de capital
humano da empresa, Giovane Costa.
Costa afirmou, porém, que a empresa dá abertura
para os funcionários, que se sentem confortáveis em falar sobre
o assunto. “São 85 mil funcionários na empresa e, por isso, há
muitos casos de relacionamentos. Sabemos que é normal”. Costa
acredita que, com a evolução das mulheres no mercado de trabalho,
casos de namoro entre funcionários têm se tornado cada vez mais
comuns.
fonte: G1 - Globo.com
|