Mudanças no ponto eletrônico geram polêmica
Determinação do Ministério do Trabalho exige troca de equipamento;
empresários reclamam dos custos
As novas regras para o sistema de registro eletrônico de ponto,
que entram em vigor a partir do dia 21 de agosto, são alvo
de reclamações da classe empresária. A principal crítica é
quanto aos custos que as mudanças trazem. Conforme a Portaria
1.510 do Ministério do Trabalho, as empresas que utilizam o
sistema eletrônico para registrar a chegada e a saída dos empregados
terão que fazer a substituição por um equipamento específico,
que custa em média R$ 3 mil. O novo sistema, homologado pelo
Ministério, não permite alteração dos dados registrados e imprime
comprovantes para o funcionário, com data e horário, para possível
comprovação futura. O objetivo do governo é diminuir a possibilidade
de fraude em ações trabalhistas.
Segundo Rogério Peres Garcia Júnior, chefe de fiscalização
da Gerência Regional do Trabalho, em Londrina - que envolve
mais 101 municípios da região - o governo deu um ano para
a adequação das empresas e o prazo expira em 21 de agosto.
O órgão tem esclarecido as dúvidas dos empresários durante
o plantão fiscal (de segunda a sexta, das 13 às 17 horas).
''Muitos questionam a exigência, mas vão ter que se adequar.
Até o momento, não recebemos nada sobre possível prorrogação
de prazo ou alguma outra mudança'', diz.
Garcia Júnior informa que empresas que possuem acima de 10
funcionários são obrigadas a utilizar algum sistema de
controle de entrada e saída de funcionários, seja manual,
mecânico ou eletrônico - a Portaria envolve apenas este
último. Em Londrina, segundo a Gerência Regional do Trabalho,
há 2.400 empresas com mais de 10 empregados, mas não é
possível saber quantas utilizam o relógio de ponto eletrônico.
A Portaria foi motivada pela constatação de que parte das
empresas manipulava o controle de jornada no ponto eletrônico.
O novo sistema, segundo Garcia Júnior, é mais seguro.
''Se o funcionário for fazer alguma
reclamação trabalhista, ele vai poder apresentar os comprovantes
para o juiz'', diz. O chefe de fiscalização diz que o não
cumprimento da Portaria pode gerar multa a partir de R$ 4
mil. Ele informa ainda que quando a exigência entrar em vigor,
o controle de jornada no sistema eletrônico atual não terá
validade perante a Justiça do Trabalho. Para quem não quer
investir no novo equipamento, existe a possibilidade de voltar
para o sistema mecânico. ''É uma saída, mas, na verdade,
não existe vantagem, porque a empresa terá que ter um contingente
de funcionários para realizar o serviço manual. Hoje, o ponto
eletrônico faz a folha de pagamento gerencial'', argumenta.
Gastos
Maria Alice Faustino, proprietária da Torno e Solda Brasília,
que tem 34 funcionários, afirma que, por enquanto, não
pretende investir no novo equipamento. ''Vou esperar até
o último momento para saber se realmente isso vai vigorar.
O governo cria as exigências sem saber se todos têm condições
de arcar com os custos'', critica. Ela argumenta que os
empresários ''idôneos'' não teriam que ser cobrados a mudar
o sistema porque uma parte da classe empresarial frauda
o ponto eletrônico.
Felipe Hatti, sócio-proprietário do Sigma Vestibulares, com
50 funcionários, não concorda com a mudança, mas já comprou
o novo sistema. ''Sempre procuramos fazer tudo da forma
mais correta possível, por isso atendemos a exigência.
Só que não acho certo o governo levar os empresários a
este gasto'', diz. Hatti lembra que trocou o sistema mecânico
pelo eletrônico há cerca de três anos. E agora teve que
investir R$ 3.150 no novo equipamento. O pedido foi feito
no mês passado e a máquina deve ser entregue até junho.
Equipamentos podem custar até R$ 4
mil
Quem demorar para adquirir o novo
sistema para controle de jornada pode não conseguir receber
o equipamento a tempo. É que o produto só foi homologado
pelo Ministério do Trabalho e liberado para a venda em abril
e os fabricantes terão que correr para atender a demanda.
''A partir do pedido, o fabricante pede 60 dias para fazer
a entrega'', observa Élcio Yoshiki Nonaka, sócio-proprietário
da Nonaka Crachás, que representa na região de Londrina a
Topdata Sistemas de Automação.
Os equipamentos que ele representa custam a partir de R$
2,9 mil até R$ 4 mil (reconhecimento por digitais). Até
agora, apenas 10% dos clientes de Nonaka já fizeram o pedido.
A maioria está na expectativa que haja alguma mudança na
lei. ''Muitos temem que esta Portaria (do Ministério do
Trabalho) acabe como a exigência do kit de primeiros socorros
para todos os veículos'', compara Nonaka. Ele informa que
o sistema exigido não permite adaptações. ''Muitos perguntam
se não dá para colocar uma impressora ao lado. Mas não
pode haver periférico. A impressora tem que fazer parte
do relógio'', esclarece.
Nonaka informa que a impressão do comprovante utiliza sistema
semelhante ao dos cartões de crédito. Cada bobina de papel
custa entre R$ 3 e R$ 4. Outra vantagem do novo sistema,
segundo o empresáario, é que a memória é permanente. ''No
sistema atual, a memória subscreve. O tempo varia de acordo
com o relógio'', diz. (G.M.)
Fonte: Folha de Londrina
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