Previdência fragilizada
A Previdência Social é um sistema pelo qual as pessoas guardam parte da sua renda
enquanto estão trabalhando, para bancar seu sustento durante
o período de aposentadoria. Há, basicamente, dois regimes
de previdência: o primeiro é chamado de “capitalização”,
pelo qual o trabalhador deposita um valor em conta individual,
normalmente administrada por instituição financeira; o segundo
é o sistema de “repartição”, pelo qual todos os trabalhadores
atuais contribuem para um grande fundo geral cujo dinheiro
é usado para pagar os que estão aposentados hoje.
Enquanto o regime de capitalização tem caráter individual
e voluntário, o regime de repartição tem caráter geral e
compulsório, e é baseado na chamada “solidariedade entre
as gerações”. O INSS funciona em regime de repartição e é
responsável por pagar aposentadorias, pensões e mais uma
série de benefícios. O problema de difícil solução nesse
regime é estabelecer, com algum grau de precisão, a contribuição
dos atuais trabalhadores necessária para suportar as aposentadorias
e demais benefícios previdenciários. As mudanças no perfil
demográfico (que altera a relação entre o total de pagantes
e número de aposentados) e as altas taxas de desemprego e
de emprego informal vem provocando constantes solavancos
financeiros nos regimes de repartição, nos quais a persistência
de déficits tem sido crônica.
No Brasil, a Previdência Social dos trabalhadores privados,
administrada pelo governo, vem sofrendo com a queda na taxa
de crescimento da população e com a imensa quantidade de
trabalhadores sem registro, fazendo com que o déficit nas
contas aumente ano a ano. Foi isso que levou o governo Fernando
Henrique Cardoso a introduzir, em 1999, o fator previdenciário,
que é um redutor no valor da aposentadoria em relação à fórmula
que vigia até então. Dois trabalhadores de mesma renda e
que pagaram o mesmo valor ao INSS por 35 anos terão aposentadorias
diferentes caso um tenha 53 anos e o outro 60 anos, por exemplo.
Essa alteração diminuiu o desembolso geral do INSS com aposentadorias,
mas apenas jogou o problema para o futuro, pois a arrecadação
continua não cobrindo os pagamentos.
É nesse contexto que entra o senador Paulo Paim (PT), autor
do Projeto de Lei nº 3.299/2008, que propõe o fim do fator
previdenciário, acabando com o redutor no valor das aposentadorias
em função da idade. Mesmo sendo o senador Paim do PT, o governo
Lula não quer saber de mexer nas atuais regras, seja para
não elevar o déficit do INSS, seja para não ter de propor
qualquer reforma previdenciária, problema que o Brasil não
escapará de enfrentar nos próximos anos, sobretudo porque
o país vive o agravante de ter mais da metade dos seus trabalhadores
no emprego informal, sem registro e sem previdência.
A Previdência Social é um assunto incômodo e impopular para
qualquer governo, por apresentar a terrível combinação de
benefícios baixos e déficits altos. Lula não vai deixar que
um senador, mesmo sendo do seu partido, tenha sucesso em
pôr fim ao fator previdenciário e aumentar o déficit do INSS,
mesmo sabendo que esse “fator” foi uma forma de reduzir o
valor das aposentadorias daqueles que cumpriram o tempo de
serviço e de contribuição. O problema ficará para o próximo
governo... mas terá de ser enfrentado.
fonte:Gazeta do Povo
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