Fator previdenciário: especialistas
se dividem entre sim e não
A Comissão de Finanças da Câmara fez mais uma rodada de
discussão, na manhã desta quinta-feira (2), sobre o fim
do fator previdenciário. Desta vez, foram ouvidos pesquisadores
de entidades como o Ipea, BNDES e IBGE.
O fim do fator, como foi aprovado pelo Senado, divide os
especialistas. Uns consideram pequena a economia para o
governo gerada com o fator, outro acreditam que o fator
é importante para o futuro da Previdência Social.
A audiência faz parte de uma série de debates proposta
pelo relator da matéria na Câmara, deputado Pepe Vargas
(PT/RS). Ele pretende apresentar seu parecer sobre o projeto
ainda este mês.
Vargas já adiantou que vai modificar as regras atuais do
cálculo da aposentadoria, por entender que o fator previdenciário
pune os trabalhadores, mas não quer a extinção do fator
com receio de que a matéria seja vetada pelo Presidente
Lula.
Na próxima terça-feira (7), o projeto que extingue o fator
previdenciário será debatido com o ministro da Previdência,
José Pimentel. Já foram ouvidos empresários e trabalhadores.
Os primeiros se posicionaram pela manutenção do fator e
as centrais sindicais se manifestaram a favor da extinção
do mecanismo, como prevê o projeto aprovado no Senado no
final do ano passado.
O relator da matéria, deputado Pepe Vargas (PT/RS), quer
apresentar uma proposta alternativa, que ele chamou de fator
95/85.
"Economia de palito"
O advogado especialista em Previdência Social, Matusalém
dos Santos, disse que em 10 anos, desde quando foi criado
em 1999, o fator gerou economia de 0,69%.
A economia promovida pelo mecanismo foi de R$10 bilhões,
frente a gastos com pagamento de benefícios previdenciários
da ordem de R$ 1,456 trilhão no período.
Segundo ele, "o fator previdenciário não é a salvação
da Previdência Social, e o seu fim não será a falência do
sistema", declarou. Ele se manifestou contra a substituição
do fator previdenciário por um limite mínimo de idade.
"Isso representaria prejuízo para significativa parcela
de segurados", acrescentou.
Futuro sombrio
Já o chefe do Departamento de Risco de Mercado do BNDES,
Fábio Giambiagi, defendeu o uso do fator previdenciário
com o argumento de que se trata de um instrumento justo.
"Ele faz com que aquele que contribuiu por mais tempo
ganhe mais. Antes do fator, ter contribuído por 35 anos
ou por 45 anos gerava a mesma aposentadoria. Agora, quem
contribui por mais tempo e se aposenta mais tarde ganha
mais", argumentou.
Giambiagi também defendeu o estabelecimento de uma idade
mínima para aposentadoria integral de 65 anos, como costuma
ocorrer em outros países de economia semelhante à brasileira.
Ele alertou que, em 2010, a população brasileira com idade
de 65 anos ou mais será equivalente a 10,1% do total, parcela
que subirá para 35,5% em 2050. "Se as regras (para
concessão de benefícios) não forem mais restritivas, o futuro
(das contas previdenciárias) será sombrio", alertou.
O fator previdenciário, aprovado no governo de Fernando
Henrique Cardoso, é um cálculo aplicado às aposentadorias
que reduz o benefício de quem se aposenta por tempo de serviço
e não por idade. Com o instrumento, para ter direito à aposentadoria
integral, o homem deve comprovar 35 anos de contribuição
e a mulher, 30 anos.
Os homens têm direito ao benefício a partir dos 65 anos
e as mulheres, a partir dos 60 anos de idade. Mas os homens
podem requerer aposentadoria proporcional aos 53 anos de
idade e 30 anos de contribuição e as mulheres têm direito
à proporcional aos 48 anos de idade e 25 de contribuição.
Fonte: CNTI