Proposta
é equilibrada, mas não a ideal
Manutenção da regra que considera os 80% melhores salários
da vida do trabalhador para calcular o valor do benefício
é uma unanimidade
Para especialistas em previdência, a proposta
da fórmula 85/95 apresentada pelo deputado Pepe Vargas (PT-RS)
é mais coerente do que a ideia original do senador Paulo Paim
(PT-RS), que prevê o fim do fator previdenciário.
“Essa proposta de acabar com o fator é um absoluto retrocesso,
um desserviço que se prestaria ao país. A alternativa do Pepe
Vargas é um pouco mais inteligente”, diz o consultor Renato
Follador – ex-secretário de Previdência do Paraná e responsável
pela implantação da Paranáprevidência, primeiro Fundo de Pensão
para servidores públicos implantado no país.
Follador ressalta, no entanto, que para não causar grandes
estragos na previdência é necessário manter a regra atual
de considerar os 80% melhores salários da vida do trabalhador
para calcular o valor do benefício. A reivindicação das centrais
sindicais é de que isso seja reduzido para 60% e pelo projeto
de Paim essa possibilidade é descartada, considerando-se apenas
a média salarial dos 36 últimos meses anteriores à aposentadoria.
“Eu não posso ignorar toda a vida contributiva da pessoa para
passar a considerar só os salários dos últimos 36 meses, que
costumam ser os maiores. Isso me impediria de ter uma previdência
equilibrada”, analisa.
A presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário,
Melissa Folmann, também considera necessária a regra dos 80%
melhores salários. Para ela, além de conseguir um equilíbrio
maior nas contas da Previdência, o sistema também evita injustiças.
“Antes da regra mudar, tínhamos casos de pessoas que contribuíram
a vida toda para um valor equivalente ao teto e faltando três
anos para se aposentar foram demitidas, passaram a contribuir
sobre o mínimo e acabaram tendo a aposentadoria de um salário
mínimo apenas. Ao mesmo tempo, há os que contribuíram a vida
inteira sobre valores baixos e nos últimos 36 meses passavam
a contribuir sobre o teto para ter uma aposentadoria alta”,
conta.
Na opinião dela, a proposta da fórmula 85/95 é melhor para
o trabalhador do que o fator previdenciário. “Com o fator
o trabalhador sempre perde. Com a fórmula, a situação fica
um pouco melhor”.
Já o chefe do departamento de Risco de Mercado do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fabio Giambiagi,
defende o cálculo do fator como um instrumento justo. “Dizem
que nós só pensamos em números, mas não é verdade. Trata-se
de uma regra simples: quem contribui por mais tempo ganha
mais”, disse durante a audiência pública realizada na última
quinta-feira na Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados
A mesma opinião é seguida por Follador. “A única coisa que
se conseguiu implementar de princípio atuarial na previdência
foi o fator previdenciário, que combina taxa de sobrevida
com tempo de contribuição”, explica o consultor, que é favorável
à implantação de um novo modelo para a previdência do país.
Proposta
Segundo ele, o ideal seria que a previdência fosse dividida
em quatro faixas diferentes. As aposentadorias de um salário
mínimo pagas a quem não contribui seriam consideradas como
assistência social. De um a três salários mínimos, continuaria
o sistema de hoje, mas com uma redução nas alíquotas de INSS
recolhidas dos patrões e empregados. Para quem recebesse de
três a oito salários mínimos, seria obrigatória a contribuição
para fundos de pensão e acima disso seria apenas previdência
privada.
Os salários seriam transformados no equivalente ao número
de salários mínimos e a contribuição seria sobre isso. Depois
de aposentado, haveria apenas reposição pela inflação. “Com
isso, talvez seja possível alcançar o equilíbrio nas contas
no longo prazo”, afirma.
Raio X
Em 2008, o INSS fechou o ano com um déficit de R$ 37,5 bilhões.
Neste ano, o mês de fevereiro fechou com uma arrecadação 9,85%
menor em relação ao mesmo período de 2008. Confira a situação
da previdência social no Brasil:
22 milhões de aposentados
R$ 637 é o valor médio dos benefícios pagos
R$ 3,4 mil é o teto pago pelo INSS
R$ 13,172 bilhões foram arrecadados em fevereiro
R$ 2,587 bilhões de déficit foram registrados em fevereiro
fonte: Gazeta do Povo
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