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reajuste igual ao do mínimo, aposentados "invadirão" a Câmara
Beneficiários do INSS prometem fazer muita pressão sobre parlamentares
hoje, durante a votação de emenda que equipara o aumento das
aposentadorias ao piso nacional
Cerca de mil aposentados prometem lotar os corredores da Câmara dos Deputados
hoje para pressionar os parlamentares a votar a favor da emenda
do senador Paulo Paim (PT-RS) ao Projeto de Lei 01/07. A emenda
estende o mesmo porcentual de reajuste do salário mínimo às aposentadorias
superiores ao piso nacional. Na semana passada, o presidente
da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), prometeu colocar
a proposta na pauta de votação da sessão extraordinária desta
quarta-feira, independentemente do posicionamento de acordo com
líderes partidários.
Se a emenda for aprovada e sancionada ainda em 2009, 8,1 milhões de aposentados,
que têm benefícios superiores a um salário mínimo (hoje em R$
465), também receberiam um reajuste de 8,9% no ano que vem –
porcentual previsto pelo governo para o aumento do mínimo em
2010. Desde 1992, o reajuste dos benefícios do INSS superiores
ao piso nacional não está mais atrelado ao do mínimo. Aposentados
reclamam que isso significou uma redução do poder de compra dos
benefícios.
Divulgação de nomes
“Vamos para Brasília pressionar os parlamentares. É uma mobilização nacional,
com caravanas de diversos locais do país”, diz o diretor de comunicação
da Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (Cobap),
Antônio Graff. Ele conta que a estratégia para pressionar os
deputados ainda prevê a divulgação do nome dos deputados que
votarem contra a proposta de autoria de Paim.
No entanto, mesmo com toda a pressão prometida
pelos aposentados, a base governista aposta que a votação da
emenda será adiada por falta de um acordo entre os líderes partidários.
Com isso, o governo espera ganhar tempo para convencer os parlamentares
que o projeto é inviável porque acabaria significando um rombo
nas contas do INSS e por isso será vetado pelo presidente Lula
caso seja aprovado.
Segundo estudo do Ministério da Previdência,
o impacto de cada ponto porcentual de aumento aos beneficiários
que recebem mais que o piso nacional é de R$ 1,6 bilhão. Se valesse
já para 2009, a proposta representaria um déficit de R$ 6,9 bilhões
no caixa da Previdência. Em 2008, o gasto adicional teria sido
de R$ 3,5 bilhões.
Acordo
Na tentativa de acalmar os ânimos dos aposentados,
o governo também deve levar à votação em breve o texto do acordo
firmado em agosto com as centrais sindicais, que prevê um reajuste
de 6,15% para as aposentadorias acima do piso em 2010. Para 2011,
o reajuste deverá ser metade do porcentual de crescimento do
PIB de 2009 mais a variação da inflação do ano anterior ao reajuste.
A votação dessa proposta, segundo o presidente
do Sindicato Nacional dos Aposentados, João Batista Inocentini,
deve ser realizada na próxima semana, período da marcha das Centrais
Sindicais a Brasília. Isso deixaria os deputados mais à vontade
para votar favoravelmente à proposta que interessa ao governo.
Pelo acordo fechado entre governo e sindicalistas,
o aumento acima da inflação está garantido para todos os aposentados
nos dois próximos anos. Em troca disso e de outros benefícios,
as centrais se comprometeram a desistir de pressionar os parlamentares
a aprovar outros projetos que tramitam atualmente na Câmara e
que mexem com a Previdência – entre eles, a emenda que estende
a mesma política de reajuste do mínimo às aposentadorias superiores
ao piso, que pode ir à votação hoje.
A proposta que agrada ao governo, no entanto,
foi fechada sem haver um consenso na categoria. A Cobap se retirou
da reunião em que foi fechado o acordo e, junto com outras entidades
representativas dos trabalhadores e aposentados, continuou a
pressionar os parlamentares pela aprovação dos projetos.
Na avaliação de Inocentini, essa postura da
Cobap pode resultar em prejuízos para os aposentados no ano que
vem. “Se for aprovada a emenda ao PL, o presidente já disse que
irá vetar e o projeto que prevê o acordo não entrará em votação”,
afirma Inocentini, que é ligado à Força Sindical. Ele ainda critica
os deputados que prometem votar a favor dos projetos que o governo
não aceita. “Eles estão desesperados para ganhar votos. Eu classifico
essa postura como eleitoreira e demagógica.”
FONTE: Gazeta do Povo