Trabalhadores
buscam recorde no aumento real em 2010
Metalúrgicos, petroleiros e bancários se mobilizam para melhorar
seus ganhos em relação aos anos anteriores. Dia foi de paralisações
e negociação
As três principais categorias
de trabalhadores com data-base no segundo semestre estão mobilizadas
em torno das negociações salariais e reivindicam índices que,
se confirmados e aceitos pelas entidades patronais, devem representar
o maior aumento real dos últimos cinco anos para bancários,
metalúrgicos e petroleiros do estado do Paraná.
De acordo com a estimativa do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese),
o bom momento da economia deve possibilitar um aumento médio
nos salários de 5% acima da inflação neste segundo semestre,
contra uma média de ganhos entre 1% e 2% no mesmo período do
ano passado. Além disso, a entidade projeta um recorde no número
de acordos salariais com ganho real, acima até mesmo dos resultados
do primeiro semestre, quando 97% das categorias conseguiram reajustes
acima da reposição da inflação.
“O aumento real deve ocorrer em função daquilo que a economia está proporcionando.
Hoje temos uma demanda aquecida, com aumento real no salário
mínimo, o que impacta nos pisos e nos próprios salários praticados.
Alguns setores, inclusive, começam a apresentar dificuldade de
encontrar mão de obra, o que também ajuda a pressionar a elevação
de salários”, avalia o economista do Dieese-PR Cid Cordeiro.
Mobilização
Ontem, os trabalhadores das montadoras Volvo
e Renault, representados pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande
Curitiba (SMC), deram o pontapé inicial nas mobilizações com
paralisações de duas horas em frente às fábricas para pressionar
as empresas a aprovarem as propostas salariais da categoria.
Segundo o presidente do SMC, Jamil Dávila, a greve por tempo
indeterminado não está descartada. “As empresas não apresentaram
até agora nenhuma contraproposta. Vamos respeitar o prazo legal
de 48 horas para que elas apresentem uma alternativa, do contrário
podemos encaminhar uma proposta de greve em assembleia”, diz
o sindicalista.
Os metalúrgicos querem um reajuste salarial
de 12% – 7,5% de aumento real, mais 4,29% de reposição da inflação,
medida pelo INPC –, além de aumento de 15% nos pisos da categoria
e reajuste de 50% no abono, que pode chegar a R$ 2,8 mil.
O SMC negocia os acordos individualmente com
as empresas, já que as negociações coletivas com o sindicato
patronal (Sinfavea) não avançaram. Segundo Dávila, o único acordo
que avançou até agora foi o que garante a estabilidade no emprego
de dirigentes sindicais e aumento no adicional noturno para 25%
com a Renault. Hoje, o sindicato promove assembleia com os cerca
de 4 mil trabalhadores da Volkswagen, em São José dos Pinhais,
para votar indicativos de paralisação.
Petroleiros
Os trabalhadores da Refinaria Getúlio Vargas
(Repar), da Petrobras, em Araucária, também participaram ontem
de uma rodada nacional de negociações na sede da empresa, no
Rio de Janeiro, na qual não se chegou a um acordo. A categoria
reivindica um aumento real de 10% – o que, se aceito, pode representar
um aumento real acumulado de pouco mais de 38% nos salários dos
petroleiros nos últimos seis anos. “A categoria já está em estado
de greve e pode parar a qualquer momento”, afirma o diretor do
Sindipetro Claudiney Batista.
Já os bancários realizam hoje a quarta e última
rodada de negociações com os representantes dos bancos. O presidente
do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Otávio Dias,
no entanto, considera que a possibilidade de se chegar a um acordo
é “quase nula”. A categoria reivindica um aumento real de 7%
nos salários. “Os bancos já falaram que o reajuste não é possível,
que não veem a pauta como negociável, mas não apresentaram uma
contraproposta”, alega.
No fim da tarde de ontem, a Federação Nacional
dos Bancos (Fenaban) divulgou nota na qual afirma que o processo
de negociações prossegue no dia de hoje. Segundo a entidade,
“a categoria dos bancários já conta com uma convenção coletiva
de ampla cobertura de salários e benefícios”, que inclui itens
como participação nos lucros dos bancos, que pode chegar a mais
de quatro salários no ano. “Os banqueiros estão empurrando todas
as nossas reivindicações como quem quer levar a categoria para
uma greve. Hoje o comando nacional de negociação se reúne para
definir as próximas ações, mas, pelas expectativas, a gente não
vê outro caminho”, afirma Dias.
São Paulo
Acordos têm pouco impacto no Paraná
Cerca de 100 mil metalúrgicos
do ABC Paulista já fecharam acordos salariais com ganho
real de 4,5%. Destes, cerca de 40 mil conquistaram ainda
um abono salarial de
R$ 2,2 mil. Mas essas negociações,
que abarcam 60% da categoria naquele estado, não devem
influenciar o rumo dos acordos no Paraná. “Aqui as negociações
acontecem com tendências próprias, até porque há uma
grande diferença entre os salários médios praticados
lá e aqui”, avalia Cid Cordeiro, do Dieese. Segundo ele,
essa defasagem permite aos trabalhadores paranaenses
reivindicar ganhos reais maiores que os de seus colegas
paulistas.
Em 2009, foi o índice de 8,37%
de aumento negociado pelo Sindicato dos Metalúrgicos
da Grande Curitiba com as montadoras paranaenses que
serviu de parâmetro para os acordos em São Paulo. Lá,
os trabalhadores das unidades da General Motors (GM)
de São Caetano e São José dos Campos entraram na Justiça
para pedirem o mesmo índice, em vez dos 6,53% que já
haviam sido acordados, o que foi acatado pelo tribunal.
Para o presidente do SMC,
Jamil Dávila, se as empresas oferecerem o índice concedido
no ABC para os trabalhadores paranaenses, deverão fazer
uma compensação no abono salarial. “Se quiserem manter
o abono, o índice deverá ser maior. Se quiserem equiparar
os índices [com São Paulo], deverão dar um aumento no
abono”, diz.
Em dezembro, será a vez de
os trabalhadores do setor metal-mecânico, representados
pelo SMC, fecharem os acordos salariais. Segundo Dávila,
o índice dessa categoria deve ser definido com base nos
acordos fechados pelos trabalhadores das montadoras.
(ACN)
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Fonte: Gazeta do Povo
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